20 ANOS DE CARREIRA DE ALEXANDRE HERCHCOVITCH EM LIVRO
Experiências de Herchcovitch
O mercado de roupas no Brasil não é dos mais amigáveis com os seus criadores. Herchcovitch parece ter entendido isso rapidamente. Passou a desfilar no exterior, assumiu papel no Senac Moda, escreveu livros e, sobretudo, tornou-se um bem sucedido licenciador do próprio nome. Ele hoje assina de louças a sorvete e fatura mais com licenciamentos do que com a moda.
Neste começo de primavera ele lançou outro livro, um recorte sobre seus 20 anos de trajetória revelados através de perguntas respondidas a amigos e a profissionais da convivência dele. Entram na lista os stylists Mauricio Ianes e Marcio Banfi, Paulo Borges do SPFW, os jornalistas André do Val, Luigi Torre, Jorge Wakabara, Eduardo Viveiros e Charles Cosac, fundador da Cosac Naify, editora pela qual sai o livro. Com Erika Palomino há uma tentativa de abordar a situação do jornalismo de moda,
Também participam Daniel Raad, seu colaborador há 12 anos e amigas, clientes e modelos como Marina Dias, Carol Trentini e Ana Cláudia Michels que aparecem usando peças memoráveis. Bob Wolfenson é o fotógrafo das fotos de clássicos revisitados. Fernanda Young faz a abertura e Camila Yahn grifou partes do texto criando uma espécie de segunda camada de leitura. Tem mais gente nesta comemoração de duas décadas de carreira.
Experiências com Herchcovitch
A primeira da qual lembro foi em alguma edição do Mercado Mundo Mix. O rapaz de cabelo longo que vendia peças estampadas com caveiras na cena underground já causava forte impressão.
Anos depois, iniciei um ciclo de coberturas da SPFW que me colocou diante dos desfiles dele. Sempre entre as melhores, as coleções desafiavam qualquer um que se aventurasse a escrever sobre elas a pensar melhor.
Misturado com os desfiles veio a experiência como cliente. Era como se no contato direto a roupa de Herchcovitch abdicasse das narrativas externas a ela como forma de convencimento. Os atrativos sempre me pareceram estar embutidos com engenho e gosto na concepção e funcionamento da própria roupa.
As camisetas, tão banais, sob a sua chancela transformavam-se, habilmente recortadas para cair bem sobre o corpo e posar de protagonistas. Não havia como não registrar as calças com proporções levemente alteradas na modelagem, os cortes oblíquos, transversais, os bolsos ocultos que você só descobria tempos depois de uso, a silhueta inesperada que a jaqueta desenhava no espelho. É notável a capacidade do Alexandre de introduzir inteligência específica de moda em peças de ambição delimitada pela noção de uso. Por inteligência específica de moda eu quero falar de recursos de construção da roupa. Ele é bom nisso.
Dizer que o Herchcovitch é um designer talentoso, dos melhores que a nossa curta história de moda produziu, não é reafirmar o óbvio. É uma necessidade em um país de pouca memória. Não é a toa que ele está cuidando de registrar a dele. O livro, que traz ainda alguns desenhos técnicos, está à venda nas livrarias do país por R$ 89. Mais que justo.
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