Segundo dia de SPFW
Segundo dia de SPFW, e bom também. A alternância de assinaturas fortes – João Pimenta e Lino- com marcas francamente comerciais – Colcci – entremeadas por minimalismo atemporal e universal – Uma – e pela competência suntuosa da moda festa – Lino e Cirnansky – parece outro movimento na direção de apresentar a diversidade (e ao mesmo tempo fazer dela uma cara ou potencial) da moda brasileira.
João Pimenta é um destes talentos consistentes que sempre entregam imagens de moda bem construídas. Além disso, ele tem um gosto por materiais que o leva a desenvolver todas as bases da coleção. O resultado dessas qualidades rende apresentações maduras e instigantes. Dessa vez, inspirado pelo malandro brasileiro dos anos 30, Pimenta encheu a passarela de dândis nacionalizados pelos tecidos artesanais, calças muito curtas e variações inventivas de paletós. Em meio ao repertório de acertos, vale citar a inusitada distribuição de pregas, algumas delas nos joelhos, favorecendo o movimento e criando belo efeito visual, e os paletós divididos ao meio, transformados em duas peças.
Fiel a si mesma, Raquel Davidowicz apresentou uma coleção que se exercita sobre poucos e bons elementos, mas avançando no trato com os materiais e com a cor. Estes são econômicos como sempre, mas explorados em espectro maior e com presença de monocromia radical e texturas fortes, algumas suntuosas chegando ao jacquard com lurex. Boa alfaiataria, fluida, com foco na forma e abrindo mão de detalhes. Predomina um desenho genderless, urbano e funcional regido pela beleza sóbria da cartela de preto e branco, cinza, azul, vermelho e vinho.
Repetindo-se nas silhuetas, mas esbanjando domínio técnico, Samuel Cirnansck apresentou luxo ostensivo em modelos de costas expostas, repuxados estratégicos e muita pedraria. Os vestidos na maioria são ajustados na parte superior e fartos nas saias, estas mais curtas na frente e cheias e longas atrás. De acordo com ele, tudo inspirado em Nefertiti, a rainha egípcia. Ok. O que importa é que ele sabe, de verdade, fazer um belo vestido de festa, ainda que pareçam ser de um outro tempo que não este.
O calor proibitivo que assola São Paulo não é o melhor pano de fundo para as coleções de inverno, mas é assim que a realidade se impõe, e lá vamos nós, entre peles espessas e volumosos casacos negros. Acentuando o contraste, Lino Villaventura adotou tema sombrio, enchendo a passarela de musas pálidas, fantasmagóricas como nos filmes de Tim Burton. Como moda é o que é, e assim como o cinema pode nos transportar em fantasia, o estilista consegue seu intento com imagens convincente, criadas por cores abusadas, superfícies ricamente trabalhadas e mis en scéne de gelo seco. O Halloween de luxuosa artesania foi arrematado por um impactante vestido abóbora.
O militarismo anda com status em alta no mundo e na SPFW. A Colcci confirma com moda jovem e urbana, oferecendo mistura de casual inventivo unida em paradoxo com a idéia de uniforme. Tudo funciona ali na passarela e já nasce destinado a funcionar na vitrine e no dia a dia. Com alguma graça é verdade, e sem maiores vôos ou intenções. A cartela é de cinza, preto, vinho e marinho e os jeans bordados vão agradar, certamente. Se você acha que falta entusiasmo neste texto é porque a roupa não é para instigar, é para usar.
Imagens Agência Fotosite e acervo Radar.
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