Primeiro dia de Fashion Rio
Na sequência da temporada de moda dedicada a dar um choque de ordem no calendário nacional, o Fashion Rio abriu em dia bonito e quente, mais uma vez com desfiles realizados no Pier Mauá. Ao contrário de São Paulo, em que além da data extraordinária mudou-se também o local, tudo parecia como antes. Com o passar das horas, entretanto, era possível notar que também aqui o público era menor. De fato, um certo esvaziamento era inevitável, mas, considerando que se as semanas mudam de data, nem por isso todos os interessados conseguem se ajustar logo de cara, não há nada de grave nisso. Tudo dentro do previsto, e vamos ao que interessa: moda, roupa, bolsas, sapatos e o que eles podem fazer pelos nossos negócios e aparências pessoais.
São bem bonitos os efeitos obtidos com superposições de transparências em tons de terra na Acquastudio. Acrescidos de texturas e passagens de tons, eles sugerem uma certa “sujeira” que contrasta com as formas bem construídas e elegantes, várias delas definidas por cintura marcada, com a parte superior ajustada e a inferior evoluindo em evasês armados. O efeito é potencializado pela ambivalência de aspectos dos materiais, entre o delicado e rústico com estes opostos funcionando muito bem mesclados. O tema anunciado, queimadas no cerrado brasileiro, encontra expressão adequada e sensível na coleção de Esther Bauman. Entre os materiais, renda e tecidos rústicos, como linho e couro, com o auxílio luxuoso do capim dourado.
Peru e Courréges. Entenda isso como o país, e não a ave, somado a algumas formas e comprimentos dos anos 60. Esta seria uma possível abordagem e, no caso, uma qualidade, da coleção Herchcovitch. Outra deve ser creditada ao excelente trabalho com os materiais. Tem denim de todo jeito, inclusive com efeito manchado em prata, que a assessoria trata como espatulado, e vamos todos assinar em baixo, pois quem sabe da técnica que usou é mesmo o Alexandre. Esse namoro dos Andes com a década de Mary Quant sai acentuado pela presença de tricôs coloridos e de peças pesadas, com algo de uniforme espacial, tudo em convivência harmoniosa. A coleção é uma espécie de trombada cultural apaziguada pela objetividade da roupa usável, do tipo que problematiza na idéia mas resolve na prática.
A Oh Boy, na verdade com todas suas oh girls, envereda pelo universo dos bichinhos de estimação e homenageia gatos e cachorros com humor de cartoon. Na forma e no espírito é uma coleção anos 60, na qual a irreverência da Tais Losso coloca em pedestal de igualdade os pets já citados e a musa Twiggy. Esta mimetizada inclusive no beauty do desfile. Tem vestido curto e evasê, tem lacinhos, tem ilustração, tem efeitos ópticos em preto e branco e tem até duas modelos caminhando juntas, como no recente desfile da Vuitton, responsável por emplacar de vez os sixties como referência obrigatória da moda global.
Nadando contra a própria corrente, mas a favor de novidades que no mínimo irão expandir seu repertório, a Alessa economizou nas estampas e avançou sobre o preto para criar efeitos interessantes, ricos como um emaranhado de texturas sobrepostas. Adepta de conceitos hiperbólicos e pródiga em frases como “delimitações do tempo que movem o homem e seu universo” na hora de falar de suas coleções, ela alcança bons resultados práticos em combinações de t-shirts molengas e saias com tratamento brilhante, tudo em preto retinto.
O ex astro pop Paulo Ricardo, ao vivo, deu o compasso da TNG, empenhada em construir imagem de moda fácil e digerível a partir de mochileiros e exploradores. Não do tipo que encara algum exotismo étnico, mas urbanóides singrando ruas de Nova York, Londres e São Paulo ao som de rock and roll. Tem denim com uma miríade de tratamentos e jeanswear para muitos gostos, vestidos práticos de verdade e alguma alfaiataria, mas, o que mobilizou as atenções foram os couros de peixe, com cardumes de tilápias, pirarucus e pescadas levadas para roupas, bolsas e sapatos. Marca dedicada aos básicos e ao mercado massivo, a TNG cumpre seu papel diluindo tendências, levando atores globais para a passarela e deixando o fator de risco perto de zero na hora das apresentações.
Imagens Agência Fotosite
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