Marina Abramovic e a moda
Com um longo vestido vermelho, e rodeada de assistentes e seguranças, Marina Abramovic desliza pelo Moma, em Nova Iorque. Ela se dirige para a sala onde permanecerá estática por várias horas do dia, sentada em uma cadeira. Vai repetir a função durante três meses. Neste período, qualquer um poderá se assentar diante dela, olhar e ser olhado diretamente nos olhos por determinado tempo.
Isto ocorreu em 2010 e a performance em questão, apesar da aparente simplicidade, causou comoção, arrastando pequenas multidões diáriamente ao museu. “Nunca vi tanta dor” ela afirmaria depois do fim da exposição, batizada de O Artista Está Presente.
A artista é uma espécie de mãe da performance, e mantém viva esta forma de expressão oferecendo-se como a carne do espetáculo que encena. A analogia não é apelativa, ela é mesmo uma artista radical, posicionando-se diante de espectadores que ela própria armou com lâminas afiadas ou mergulhando em gelo depois de mutilar-se em pleno Guggenheim. Além disso, é uma figura impressionante. Como veio ao mundo, com o nariz adunco e porte de escultura, coroada pela vasta cabelereira escura, já seria uma mulher formidável. Mas, a natureza, que é uma força superlativa também no trabalho dela, não lhe basta, e a artista que trafega nos extremos é vaidosa. Para surpresa de muitos, ela até gosta de moda.
“Eu pensava que gostar de moda me faria uma artista menor e mantinha em segredo meu desejo de me aproximar do assunto, um desejo que eu nunca admitira para mim mesma. Na primeira vez que ganhei um dinheiro considerável, comprei uma roupa do Yamamoto. Me senti muito bem, e sem nenhuma culpa! Depois disso, passei a me interessar abertamente pela moda e a tentar criar meu próprio estilo usando diferentes elementos daquilo que era moda no momento.”
Amiga de Ricardo Tisci da Givenchy, para quem posa com um vestido assinado por ele na imagem acima, frequente em capas e editoriais de revistas da área, e ao mesmo tempo uma das artistas mais respeitadas da atualidade, Abramovic ignora solenemente o senso comum que atribui à arte o direito sobre o que é sério ou respeitável, e condena a moda à medida rasa do que é supérfluo.
Trabalhando diretamente com o próprio corpo, ou talvez por isso mesmo, ela não se furta nem mesmo ao direito de fazer intervenções, e a cirurgia plástica, não com fins artísticos, mas aquela destinada a deixá-la com uma aparência que ela julga melhor, também faz parte das possibilidades da artista. Marina Abramocic hoje está com 66 anos e ainda muito bonita, como é fácil conferir, graças à associação estratégica de genética, bom gosto para a moda e cirurgia estética. E porque não?
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