Artesanato e contemporaneidade

Artesanato e contemporaneidade

22 de janeiro de 2013 Moda 0

 

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Convidados para desenvolver uma coleção de calçados que utilizasse algo da produção artesanal brasileira, optamos por trabalhar com rendas e crochê de Santa Catarina, madeira e tecelagem de Minas Gerais e bordados da Serra Gaúcha. Isto explicado, vale dizer que  já havíamos participado, separadamente, de projetos semelhantes. A primeira diferença em relação às experiencias anteriores constatamos em conjunto e logo de cara. Artesãos e artesãs  não se assemelhavam mais aqueles do passado. Reagiam à abordagem em linguagem comercial e demonstravam ter intimidade com este tipo de situação. Mesmo detectando o avanço da cultura material sobre a imaterial como um endurecimento, percebemos logo que era inevitável que fosse assim. Estávamos diante de um outro retrato de Brasil, distante daquele  idílico, interiorano e imerso em práticas ancestrais. Para o bem ou para o mal a rendeira, a bordadeira e o entalhador já estavam integrados aos princípios de uma sociedade comercialmente ativa, cientes de que aquilo que a tradição lhes deixou como atividade tem algum valor. Superamos a nostalgia paternalista  pelo quinhão de inocência perdida e seguimos adiante.

Aquilo que encontramos no trabalho de campo, somamos à idéia de nos orientarmos pela geometria presente em artefatos indígenas e escolhemos as cores do tucano (ele mesmo, o pássaro) como orientação da cartela. O resultado, todo ele em amarelo e vermelho puros, mais o preto e um pouco de bege,  corteja abertamente o excesso. Com exceção da modelagem em canos altos, passamos ao largo de orientações internacionais da estação em busca de uma visualidade diferente. Artesanal sim, brasileira também, mas que fosse essencialmente contemporãnea.

Foi esta a nossa receita para fazer frente ao sinal de menos que insiste em acompanhar a produção artesanal no Brasil. Seja no que tange ao seu valor financeiro, seja na pertinência estética. Abordada como pitoresca, ela também é percebida,  na maioria das vezes, como algo sem chances reais no mundo das imagens globais da moda.

É sempre bom poder contribuir para virar este jogo!

Fernanda Daudt / Eduardo Mottta

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O modelo acima tem puxador de zíper em formato de pássaro desenvolvido em parceria com o Toninho dos Passarinhos, artesão de Lagoa Dourada. O material preto foi confeccionado em tear manual pela  familia do Sr Zito, em Resende Costa. Ambos são de Minas Gerais.

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O tecido do modelo acima  foi confeccionado pela mesma família de Resende Costa, em Minas.

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Acima, modelo todo bordado com minúsculas flores de crochê, feitas pelas Mulheres do Frei, em Palhoça, SC.

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O trabalho de superfície no tecido deste cano de sandália foi realizado na Serra Gaúcha, pelas bordadeiras da associação Coisas de Ester.

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As tiras de renda de bilro foram adaptadas para pontos bem pequenos. Partimos dos entalhes e da pintura corporal  dos índios brasileiros para chegar aos motivos geométricos. O trabalho é das Rendeiras de Imaruí, em Santa Catarina.

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Todos os solados são protótipos de madeira assinados pela Radar Consultoria.

O projeto tem fundo social, na medida em que viabiliza a entrada da produção de comunidades carentes no circuito comercial da moda, criando oportunidade de negócios. Ele também promove uma oxigenação da indústria, infiltrando no ambiente dela um sopro revigorante de formas e técnicas criativas.  A iniciativa é da Assintecal, associação que reúne um grande número de empresas dedicadas à fabricação de componentes para a moda, no Rio Grande do Sul. A realização é do Instituto By Brasil. O projeto chama-se Mix By Brasil e conta com apoio do Sebrae e da Apex.  Os parceiros no desenvolvimento deste projeto específico foram as empresas Brisa/Intexco, Fôrmas Kunz e Comlasa.  Contamos ainda com o suporte profissional da Matrizaria Polako, responsável pela execução das cepas.

A coleção foi apresentada entre os dias 16 e 17 de janeiro de 2013, durante o Inspiramais, no Shopping Frei Caneca, em São Paulo.

 

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