A força (ainda) inexplorada do crowdfunding na moda
Nos últimos anos, vimos o financimento coletivo despontar como uma das mais bem-vindas novidades do mercado. Pequenos produtores passaram a ter a chance de colocar suas ideias em prática graças ao apoio do público interessado em ver aquele projeto ganhar vida. O Kickstarter, nos Estados Unidos, foi um dos precursores deste modelo de negócio, que foi ganhando diversas plataformas mundo afora ao longo de sua consolidação.
Aqui no Brasil, o Catarse é o principal canal de crowdfunding. Lá, encontram-se os mais diversos tipos de projetos buscando apoiadores: de ações sócio-urbanas à gravação de um disco, de artistas visando um lugar ao Sol a ciclistas querendo divulgar sua causa.
A moda, porém, ainda foi pouco explorada pelo sistema de “pré-venda” possibilitado pelo crowdfunding. E foi por isso que eu decidi fazer uso desta ferramenta para lançar a próxima coleção da minha marca de camisetas, a Alguns Tormentos.
Alguns Tormentos – Catarse from Alguns Tormentos on Vimeo.
O funcionamento é simples: o cliente se torna um apoiador do projeto, comprando as camisetas em um sistema de pré-venda coletiva. Se o valor mínimo for atingido no prazo estabelecido, a coleção será produzida e ele receberá seu pedido. Caso contrário, o dinheiro é devolvido a todos os apoiadores. Ninguém tem nada a perder: nem o criador, nem o consumidor.
Não é difícil perceber como o crowdfunding tem potencial para ser revolucionário para a indústria da moda. Se pararmos para pensar, é a mesma lógica que existe — desde sempre — na engrenagem da moda em relação aos varejistas: o estilista faz um showroom onde recolhe os pedidos de seus revendedores, e só então as peças são confeccionadas. A diferença é que, agora, esse poder de influência na produção da moda está na mão do consumidor final! E isso é simplesmente incrível.
Se o próprio consumidor é quem vai decidir quantas e quais peças de uma coleção serão produzidas, está sendo colocado em cheque o próprio conceito de “tendência”. Quando o poder coletivo é o principal responsável por viabilizar uma ideia, fica na mão do povo decidir que moda vai “pegar” ou o que não passa de um surto fashionista de seu criador.
Com a provável aprovação da lei Rouanet na próxima edição do SPFW, entrará em pauta a antiga discussão do que é moda comercial e o que é conceitual, já que para usufruir dos benefícios da lei o estilista vai precisar provar que seu trabalho é autoral e que existe pesquisa no seu processo criativo. A pré-venda dessas coleções (e seus sucessos ou não) podem ajudar a definir essa peneira e já indicar as “tendências” da temporada.
Outro ponto a ser considerado é a sustentabilidade do negócio: as marcas vão parar de produzir toneladas de roupas que podem encalhar nos estoques. O crowdfunding serve como um “termômetro” para o estilista, permitindo que seja produzido apenas aquilo que realmente será consumido, afinal, são peças que foram pré-compradas antes de sua confecção.
O formato ainda é novo, e muito ainda pode ser explorado sobre sua relação com o mercado da moda. Suas diversas vantagens tornam inegável o fato de que, nos próximos anos, veremos seu uso se intensificar, e como esse shift no sistema afetará a indústria e os consumidores.
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