Um esboço de Brasil: Parte 2 Rio de Janeiro
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A fim de dar a última aula, fiquei mais um dia em Fortaleza enquanto nossos convidados estrangeiros embarcavam para o Rio de Janeiro sem esconder a excitação. Pudera, em relação ao Rio, também nós nos sentíamos da mesma forma. Afinal de contas, o Rio é destas cidades míticas para o imaginário global e não costuma decepcionar nem as melhores nem as piores expectativas.
Graças à diligência refinada da Fernanda, alugáramos um enorme apartamento de esquina, espaçoso, livre de objetos de gosto duvidoso, alto e debruçado sobre o Copacabana Palace. Tínhamos acesso a uma extensa varanda, que contornava toda a fachada e abria-se para um naco generoso de areia branca e água azul, de um lado, e montanhas verdes e rochas de outro. Com esta base pronta, partimos para a exploração. O primeiro dia deles (sem a minha presença) foi dedicado à visita ao Cristo. Breathless! Afirmaram todos. À noite, para a palestra no Parque Lage, cheguei direto do aeroporto e poucos minutos antes da hora marcada ao prédio que Karen descreveria em rede social como localizado no meio da “jungle”. Não conhecíamos nossos parceiros na cidade, havíamos tratado dos preparativos por e-mails e telefonemas e tanto as instalações quanto a receptividade confirmaram o acerto. Uma bela sala, um público interessado e a boa perfomance da Karen, compensaram as dificuldades da tradutora. No saldo tudo correu bem.
Neste ponto peço licença para introduzir uma nota pessoal. Ludibriado por todo o grupo, inclusive pela surpreendente capacidade belga de dissimulação, fui conduzido a um apartamento onde me aguardava uma festa surpresa. (Era meu aniversário.) Enquanto emagrecia carências e engordava o ego, nossos convidados aproveitavam a oportunidade de conviver em um legítimo apartamento carioca com a típica alegria local. Isso até bem tarde na madrugada. Voltamos todos ao nosso apartamento caminhando pelas ruas de Copacabana. Dia perfeito este.
No segundo, cruzamos o Aterro ensolarado e demos de cara com o MAM de portas fechadas. Compensamos a decepção com encantamento do Hans pela estrutura externa e com o amplo vão sustentado pelas colunas projetodas pelo Reidy. Dali fomos para o MAR, o novo museu carioca. Do terraço avistamos o centro do rio, barulhento e caótico como um canteiro de obras. Ótima a visita. A cidade tem sua história contada em obras e a arte brasileira é apresentada em coleções estrangeiras. Momento tautológico, com o olhar estrangeiro visitando acervos selecionados por olhares também estrangeiros.
No meio da tarde rumamos para o Leblon e nos empenhamos na tentativa de conseguir uma mesa grande no apertado restaurante Celeiro. O grupo havia crescido com a presença de Luiza Marcier, diretora do Museu da Moda (que deve abrir as portas na cidade em 2014) a assistente dela, Rafaela Seda, e o assistente do nosso escritório, Ramon Steffen, que viera do sul para acompanhar o resto da viagem.
À noite, rumamos para o Fashion Rio, na Marina da Glória. Fomos recebidos por uma pessoa da equipe da Luminosidade que cuidou de nos assentar em dois desfiles. O primeiro deles não trouxe nenhum momento especial, nenhuma idéia particular. Conversamos bastante a respeito para chegar ao ponto do qual partíramos: desfiles assim desperdiçam a oportunidade. No centro das atenções de um batalhão de especialistas e disputando o cobiçado retorno em mídia espontânea, deixam passar o momento de tirar partido da situação. No segundo desfile, Oestudio não perdeu a deixa e apresentou roupa inventiva com bom uso dos recursos que um desfile pode disponibilizar.
A estadia carioca ainda rendeu uma ida ao MAC, em Niterói. Confesso que foi minha primeira visita ao Museu projetado pelo Niemeyer. Encravado em um ponto espetacular, fantasioso como uma obra de ficção o prédio obscurece qualquer senão, da água suja da baia ao acabamento canhestro. Diante da imensa paisagem aberta para o Rio Karen comentou: “Agora entendi porque é que ele está deste lado, e não do outro”. Realmente não fosse por razões arquitetônicas, a vista da cidade do Rio de Janeiro, do outro lado da baia, valeria por si só.
Voltamos apressadamente para um resto de sol nas areias de Ipanema. Caipirinhas nos mantiveram por lá até às 20 horas, em um daqueles momentos raros que costumamos atribuir como frequentes nos destinos tropicais.
Um boteco profissional do Leblon abrigou nossa última noite. No dia seguinte, um domingo, deixamos nossos amigos transitando sozinhos. Nas andanças por Ipanema viram o corpo de um homem morto em uma rua movimentada do bairro. Narraram o fato sem saber explicar exatamente o que se passara.
A esta altura, São Paulo ficava cada vez mais nítida no horizonte.
Não perca amanhã a última parte deste texto. Destino: São Paulo
Imagem 1: Acervo Radar
Imagem 2: Agência Fotosite – desfile Oestudio
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