Radar recomenda: The Bling Ring
Sofia Coppola dirigiu recentemente ” The Bling Ring”, um filme baseado em fatos reais, ocorridos entre 2008 e 2009, envolvendo 5 amigos .
O grupo de adolescentes entra em casas de celebridades como Paris Hilton, Lindsay Lohan e Orlando Bloom para furtar roupas e acessórios (alguns para uso, outros para revenda) . Estima-se que o grupo tenha causado um prejuízo de mais de 3 milhões de dólares. Mais do que a mera busca pelo lucro fácil, a história traz a combinação explosiva de fenômenos atuais. Um dele é o usual desejo de aceitação dos adolescentes de pertencer a algum grupo e, de certo modo, passarem a ser considerados “normais”, não importa o quão disfuncionais e irresponsáveis sejam seus atos. O filme mostra que os fatos se desenvolveram como fruto do acaso. Poderia ter ocorrido qualquer outra coisa, lícita ou ilícita suficiente para dar aos protagonistas este sentimento de “pertencer”.
A necessidade de “ser aceito” está intimamente ligada à falta de sentido que aflora na adolescência. É um vazio moral mas, essencialmente existencial. É exatamente aí que entra a cultura das celebridades, da idéia de vida recheada de prazeres e sem incômodos, e o trabalho seria um destes incômodos. A cultura da celebridades trabalha sobre um padrão estético e de consumo glamurizado, dissonante da vida cotidiana. Se as próprias celebridades são vítimas desse sistema, o que dirá de quem tem vida esvaziada de sentido, como os adolescentes protagonistas do filme.
Parte desta pressão, como bem identifica o filme, vem do sistema imposto por marcas e grifes. Elas tem o poder (e o utilizam) de dizer que as pessoas pertencem a um determinado grupo ao consumir seus produtos. Isso atinge diretamente aqueles que acreditam nessa máxima, que a felicidade depende do que consomem.
A pressão pelo consumo existe de forma muito generalizada e variada. No Brasil, por exemplo, o documentário de Walter Salles chamado “Notícias de uma Guerra Particular”, reúne entrevistas de vários apenados. Todos parecem ter o mesmo discurso: “eu cometi e vou cometer crimes porque gosto de ‘coisas boas’, de roupas e calçados bons”, e por aí vai.
Alimentar este sistema com um mínimo de sentido ajuda bastante e a comunicação de moda pode ter um papel relevante neste aspecto. Uma cultura de moda bem desenvolvida poderia trabalhar a favor da construção da personalidade e não pela sua pasteurização. Podermos deixar de ser o que vestimos e passarmos a vestir o que somos? Desta forma teríamos a moda como um instrumento de liberdade e de libertação.
De acordo com a cultura anunciada pela maioria das grifes as pessoas são o que compram. Dificilmente há felicidade possível nesse raciocínio.
Ao encostar neste assunto, o filme de Sofia Coppola não poderia ser mais oportuno.
Vale a pena ver.
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