Amor pleno
To the Wonder, no Brasil Amor Pleno, outro filme de Terence Malick , chega a público antes mesmo do impacto de Árvore da Vida esfriar. Na sala de cinema, diante das primeiras cenas me senti da mesma forma que nas finais de Tree of Life, ou seja, atônito com a densidade emocional das imagens e outra vez sem saber o que achar de tudo aquilo. Iluminadas pela luz poente, uma enxurrada de cenas idílicas acendeu a luz vermelha da pieguice. Durou alguns minutos esta sensação, o tempo necessário para que um mal estar metafísico se sobrepusesse à desconfiança com a ameaça de um desenrolar açucarado.
Se em Árvore da Vida os assuntos eram Família e Criação, agora é a vez do Amor e da Fé, assim mesmo, com letras maiúsculas, ganharem o peculiar tratamento do diretor. Literalmente, ele dá substância ao que é imaterial e desfaz o que é físico em luz neste filme de sentimentos potentes e história deliberadamente débil sobre a insustentável leveza da condição humana. O filme não evolui da maneira a que estamos acostumados. Não se apoia na sequência de fatos. Em imagens de insistente beleza, a narrativa fragmentada registra como os personagens são intimamente impactados pelas experiências enquanto nos damos conta de que eles, assim como as histórias que protagonizam, são folhas ao vento de uma monumental orfandade cósmica. Que o diga o padre vivido por Javier Barden. Ele sofre em espanhol de uma dilacerante falta de fé. A língua estrangeira é outra metáfora eficiente do deslocamento que marca a francesa interpretada por Olga Kurylenko, transplantada para os confins middle-class dos Estados Unidos.
Não é preciso rendição incondicional ao filme de Terence Malick para reconhecer que é um privilégio ver um diretor levando às últimas consequências uma forma particular de fazer cinema.
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