Na Bélgica, tivemos o prazer de fazer uma visita guiada pela mostra Happy Birthday Dear Academie. Fomos conduzidos pela curadora Karen Van Godtsenhoven, que recentemente esteve no Brasil a convite da Radar, pelas várias salas que documentam e celebram o fenômeno da moda belga. Nascida na discreta Antuérpia, ela se tornou um dos acontecimentos mais significativos da história recente do setor. Os 50 anos do ensino de moda, inseridos por educadores como Mary Prijot, na tradicional escola de arte a partir de 1963, renderam ao mundo talentos como Walter Van Beirendonck, Dries Van Noten, Ann Demeulemeester e Martin Margiela. Hoje representantes de uma primeira geração que colocou a produção do país no mapa global e introduziu uma série de elementos estranhos e inaugurais no agitado, mas conceitualmente apático, universo da moda. Existem muitos motivos para a comemoração. Além do legado deixado pelos precursores, que o tempo vai transformando em história, a inquietação permanece viva por aqui, bem como uma saudável e rara orientação criativa, coisa que mantém os alunos a salvo da precoce rendição às regras de um mercado a cada dia mais feroz. Nem pense em alheamento ou em qualquer outro tipo de alienação em relação ao mundo  entendido como “real”. O que move o ensino ainda hoje na Academia é exatamente aquilo de que a moda globalizada mais carece. Enfraquecida pela urgência comercial, a falta de consistência e de novidade (de fato) vai minando a relevância dela na percepção das novas gerações.

Logo na entrada do museu o visitante é recebido por uma timeline concisa e visualmente muito bem executada.

A partir dela, várias salas abrigam edições categorizadas por temas arquetípicos.

Eles referenciam a natureza (Arcadia), o misticismo e a espiritualidade de diferentes culturas (Nirvana), o Desejo, e a  Rebeldia (Harmony and Protest) além de apresentar os vários autores  de ontem e de hoje que tornaram reconhecível a moda feita aqui.

Há momentos particularmente interessantes dentro da mostra. Caso do vestido inflável apelidado de Blowjob, assinado por Manon Kundig, de 2011.  A cada 20 minutos ele é acionado, para espanto dos visitantes. Qualidade técnica, concisão, assinaturas fortes e sobretudo independência criativa, elementos inseparáveis da moda belga, batem ponto na ótima mostra do MOMU. Quem visita exposições de moda pelo mundo sabe como as boas exposições de moda são artigo raro. Esta é uma delas.

Eduardo Motta e Fernanda Daudt