Exclusivo: Três novos talentos falam de moda masculina, de Brasil, carreiras e preferências

Exclusivo: Três novos talentos falam de moda masculina, de Brasil, carreiras e preferências

3 de dezembro de 2013 Moda 0
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Agora José | Hexoplexo | Jorge Alexandre Amaro

 

À medida que a moda brasileira se profissionaliza, os espaços se tornam mais disputados e as chances de colocação escasseiam. Principalmente para novos talentos, que veem o gargalo do mercado se tornar mais estreito e as condições para se permanecer vivo nele, mais hostis.

Radar foi conversar com três talentos da nova geração, todos eles operando no Rio Grande do Sul. Nosso objetivo era saber como estão enfrentando este momento da moda nacional. Todos eles optaram por trabalhar com o masculino. Sabidamente, esta é uma vertente ainda em evolução, com muitas possibilidades a serem exploradas e acreditamos que ofereça um retrato ainda mais contundente dos novos tempos e de como pensa e opera a nova geração de criadores.

Radar | Por que a escolha de trabalhar com moda masculina?

Marcos Paulo Piccoli – Hexoplexo | Acho que a moda masculina oferece mais desafios. O público masculino não aceita com facilidade coisas diferentes no vestuário. Com o passar do tempo a moda masculina foi ficando padronizada e cabe aos novos designers trazer algo diferente, tentar mudar o jeito do homem se vestir.

César Pezzini – Agora José | Eu prefiro fazer peças que sejam o mais atemporal possível. Gosto de fazer roupas que possam ser usadas durante 5, 10 anos ou mais. E acho que os homens procuram mais esse tipo de roupa do que as mulheres.

Jorge Alexandre Amaro | Sempre me interessei mais pela moda masculina. Optei naturalmente,por esse lado. Primeiro por gostar de escolher minhas roupas, depois por desejar usar coisas com informação atualizada, e, por fim, por perceber mais oportunidades no mercado masculino.

Radar | Quais as maiores dificuldades que enfrenta por trabalhar com moda masculina?

Marcos | A dificuldade de acesso a materiais diferentes e a falta de apoio para quem esta começando. Tudo fica mais complicado. As quantidade de compra são sempre muito grandes e temos que correr atrás para fazer as coisas acontecerem.

César | Encontrar mão de obra qualificada para o padrão do meu produto e o giro de peças em relação ao mercado feminino.

Jorge | Acho que a dificuldade esta nos impedimentos que o governo coloca no mercado de moda em geral, como os impostos altíssimos, sem gerar uma troca justa. Acho que o mercado esta muito bem e crescendo, o problema é concorrer com os importados, que entram sem impedimentos no mercado fazem uma concorrência desleal com produtos feitos aqui.

Radar| Acha imprescindível o designer saber costurar e modelar?

Marcos | Sim, ter conhecimento técnico e saber fazer o que desenhou ou pensou para mim é fundamental. De nada adianta somente desenhar se não souber executar o que está feito, saber construir a peça é o que diferencia o designer de um ilustrador de moda, eu raramente desenho no meu processo de criação e, sendo assim, é fundamental saber fazer a peça.

César | Apesar de saber modelar e costurar, penso que dá pra criar sem saber fazer isso. Mas é necessário conhecer modelagem e costura, para explicar em medidas e desenhos mais técnicos aquilo que se deseja como resultado final da peça. Quanto mais o designer conhecer de costura e modelagem mais fácil resolver a peça.

Jorge | Sempre me envolvi em todos os processos. Acho que para isso é indispensável saber modelar, costurar, passar. Se você pretende trabalhar com moda para o resto da vida é bom saber e gostar de fazer tudo isso. No meu caso até agora, sempre criei, modelei, cortei, costurei quase tudo… Aproveitei meu curso ao máximo. Mesmo que no futuro nunca mais venha a costurar, posso dizer que sei fazer.

Radar | Quem você admira na moda nacional? Por que? E na internacional? Por que?

Marcos | adoro o trabalho primoroso com tecidos do Lino Villaventura. Na moda global, Iris van Herpen. Acho que ela sempre consegue trazer algo novo com materiais e técnicas. É todo um outro pensamento sobre como desenvolver roupas

César | Ronaldo Fraga tem uma brasilidade que eu queria ter. Ricardo Almeida é um mestre da alfaiataria masculina. Quero muito ser que nem ele um dia. O Oskar Metsavaht faz as roupas casuais mais legais… São tantos. Mas tenho admirado principalmente meus amigos, que como eu, produzem aos poucos e da sua maneira. Hoje em dia é tão difícil viver da moda de uma forma honesta e de fato ganhar dinheiro que as pessoas que mais admiro são essas que estão à minha volta conseguindo fazer isso. Na moda internacional gosto da Sandra Backlund, que faz o tricot que eu queria fazer. A Chanel tem uma história e um sucessor incríveis. A Vivienne Westwood amo e vou amar pra sempre, desde o início da carreira até as peças mais malucas que ela tem feito. Rei Kawakubo faz umas coisas loucas que eu gostaria de fazer.

Jorge | Admiro muito o trabalho do Oskar Metsavaht. Ele construiu uma marca que hoje é desejada no mundo todo, e leva o Lifestyle Brasil para o mundo. A OSKLEN hoje vale 400 milhões de dólares. Isso por si já é uma grande inspiração, o grande sonho de qualquer estilista brasileiro. Entre os estrangeiros, sou apaixonado pela Ermenegildo Zegna. É uma mega empresa, fabrica tudo, desde matéria prima até o produto final. Faz o dever de casa a cada coleção e a roupa é inventiva e masculina na medida certa.

 

Os três por eles mesmos.

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Marcos | César | Jorge

Marcos | Hexoplexo

Logo após terminar a faculdade senti desejo de ter algo próprio, e criei, em paralelo ao meu trabalho diário, a Hexoplexo. O objetivo era fazer algo diferente, um projeto em que eu tivesse total liberdade criativa. Trabalho com modelagem criativa buscando criar novas formas, misturando modelagem tradicional com modelagem feita em 3D. Sempre gostei muito de arquitetura. Talvez a paixão pelas formas geométricas tenha surgido daí.

Adoro descobrir novas bandas e novas músicas elas acompanham meu trabalho sempre. No momento e estou fascinado por livros de modelagem do renascimento, em entender como a roupa era construída naquele período. Fui finalista do Movimento Hotspot. Faço pós-graduação em excelência em modelagem têxtil no Instituto Orbitato.

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Hexoplexo

 

César | Agora José

Fiz vestibular para Design de Produto, logo que saí da escola, porque sempre gostei de inventar. Só depois de estar nesse meio que conheci o mundo da moda, graças a uma amiga que se interessava pelo curso. Desde então comecei a estudar moda e fazer roupas e nunca parei. Depois de me formar na Universidade de Caxias do Sul, mudei para Porto Alegre e trabalhei em um atelier. Foi aí que surgiu meu interesse pela moda masculina, em especial à alfaiataria e o ofício de um alfaiate tradicional. Comecei então a estudar mais a fundo entre alfaiates e cursos. Em 2012 iniciei a Agora José, onde trabalho peças sob medida e com algumas coleções esporádicas.

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Agora José

 

Jorge Alexandre Amaro

Terminei agora o curso de Design de Moda pela Universidade de Caxias do Sul. Trabalho com moda desde sempre. No momento com o masculino da Malharia Zanatta. Ano passado participei o Fashion Designers Brasil. Foi uma etapa do concurso que reuniu estudantes de Design da região sul e meu trabalho ficou em segundo lugar. No primeiro semestre deste ano, fui o ganhador do UCS/COOTEGAL, com o projeto Príncipe e o Dragão. Recentemente ganhei o prêmio UCS/SULTEXTIL, com o projeto Alcateia Manifesto.

No futuro pretendo ter minha própria marca, mas antes quero trabalhar mais, ter mais vivência, pretendo também adquirir experiência estudando ou trabalhando no exterior.

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Jorge Alexandre Amaro

 

Links: Jorge Alexandre Amaro | Hexoplexo | Agora José

Imagens: Daniel M Viero | Jorge Bortoli | Guilherme Herz | Divulgação | Marcos Piccoli |  Giselle Seibel | Reprodução

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