Balneários, roupas, tempo e tédio Parte 02
Ao longo da costa, o vestuário é encaminhado por normas invisíveis. Garotas de corpo esculpido usam biquínis mínimos. As outras também. O que entra em cena, nesses casos, é a saída de praia, que vela o que não se quer mostrar. Gays usam sungas ligeiramente cavadas, rapazes heterossexuais usam o modelo box e calções até o joelho. Naturalmente, estas e outras regras são contestadas por muitas exceções. Em um balneário, com quase nenhuma roupa à vista, escasseiam-se os sinais e não deve-se confiar nos poucos disponíveis. É preciso vencer a preguiça e investigar mais fundo, se houver necessidade de dados precisos. Para fazer negócios ligeiros, entretanto, dá para considerar esses.
No verão da ascensão do consumo da classe C, a moda praia brasileira é mais ou menos assim: a canga resiste, mas trafega, discreta, dentro da bolsa, até o momento em que espalha-se, gloriosa, sobre a areia. O que exibe-se todo o tempo são os vestidos leves, tipo regata e semitransparentes, adotados como saída da praia e passe de entrada para qualquer ambiente. Bermudas masculinas são estampadas e vão até os joelhos. Fora da água, a alternativa de melhor gosto é lisa, como é a t-shirt. Inclui óculos retrô e dispensa meias, se acompanhada por tênis. Faltou citar a onipresente e redesenhada flip flop, imbatível para todos os gêneros, os tramados artesanais de pontos abertos e as listras muito largas, tipo faixas. Coisas de profissional tomar nota.
O mix curto sugere dificuldade para os negócios. Todavia, é bom lembrar, o Brasil, que inventou as menores peças já concebidas para se usar em espaço público, ganha muito dinheiro com elas, contrariando a lógica de equivalência métrica do consumo têxtil. Como se vê, nada é mesmo exato ou faz sentido, sob o sol de quarenta graus. Nem ao menos meu espírito de férias. Abrigado debaixo deste enorme guarda sol colorido, ele fraqueja vergonhosamente e derrete-se com vontade de trabalhar.
Hora de dar um mergulho na água gelada e deixar esta fraqueza passar.
Segunda parte do texto Balneário, Tempo e Tédio – Eduardo Motta – Do livro O lugar Maldito da Aparência, Editora Estação das Letras, SP.
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