Noticias do dia: Fernanda Torres, UPPs, Andre Forastieri, violência, Nuno Ramos, espírito dissociativo do artista, Marcelo Coelho

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5 de junho de 2014 Opinião 0

24encontros-insólitos

Li  dois artigos que comentavam outros artigos. Um do Andre Forastieri sobre o que Fernanda Torres escreveu para a Folha de São Paulo a respeito do assassinato de DG. Outro que o Marcelo Coelho escreveu na Folha sobre o artigo que o Nuno Ramos por sua vez escreveu para a mesma Folha suspeitando que estamos todos fodidos.

No blog dele, Forastieri bate pesado no artigo da Fernanda. Indigna-se por ela a certa altura dizer que à corporação policial das UPPS cariocas “falta Buda”. Isolada, como aparece aqui e aparecia lá, a afirmação soa mesmo como uma enorme bobagem. No texto dela é apenas um recurso retórico, uma amarração com outros trechos e faz mais sentido e é menos estúpida do que ele faz parecer. Não deixa de ser infeliz por isso. Há outros momentos frágeis na crítica social dela e raivosos no texto dele.

Escrevendo sobre o artigo do Nuno, Marcelo Coelho avalia como equivocada a imprecisão com a qual ele manifesta insatisfação geral com o a realidade brasileira. Nuno suspeita que nada vai bem. Ele dá voz uma insatisfação geral, Coelho reconhece isso, mas diz que o texto padece de falta de objetividade. Marcelo afirma que Nuno escreve como quem faz uma instalação. Por razões óbvias, há algo de cômico no velado tom negativo do comentário, e ele reclama ainda de “falta de encadeamento lógico”.

Para Forastieri, o que Fernanda escreveu não é mais que uma série de contradições. Falta a Fernanda Torres coragem moral, ele diz. Ela faz parte da “turminha quer ser elite e povão ao mesmo tempo. Ter segurança privada no condomínio e frequentar o pagodinho da “comunidade”. Amazônia intocada e iPhone 5. Conexão Cantagalo-New York. Cybercapitalismo bancado pelo tesouro nacional.”

Coelho critica a construção do texto de Nuno Ramos e suspeita que a melancolia que o levou a escrever o artigo “passa logo”. Seria assim algo irrelevante, uma irritação com a Copa, ou como um resfriado talvez.

O que chama a atenção é o grau de polarização entre opiniões de autores que de certa forma, e eu aqui não apenas suponho, mas espero, compartilhem preocupações sociais semelhantes. (Além de três deles dividirem as páginas da Folha de São Paulo.)

Forastieri anota “O Brasil teve em 2013 passado uns 60 mil assassinatos, entre os “oficiais” e os que nem foram registrados. Está mantendo a média em 2014. Um décimo dos assassinatos do planeta acontecem no Brasil.” Duvido que Fernanda também não se indigne com isso, mas há um oceano de distância entre a maneira que um e outro se engajam pelo social.

Coelho escreve: “ Por certo, a violência na sociedade brasileira é e sempre foi muito grande.” Mas desqualifica a indignação melancólica do Nuno com ela. Para ele Nuno nem ao menos acha um alvo: “ele escreve com o espírito dissociativo de artista.” (ops)

Quisera eu ter tanta certeza que a afabilidade social burguesa e conciliatória da Fernanda Torres seja algo tão letal, ou que desqualificar o texto de um artista que escreve da forma “dissociativa de um artista” – seja lá o que isso quer dizer- sobre as mazelas do país seja algo importante a fazer. De certo eu sei que o Brasil de uns tempos para cá ficou menos acolhedor, mais Cantagalo mais Leblon, mais preto mais branco, mais pobre mais rico, mais ângulo reto que curvo. E isso para todo mundo. Sem exceção. Alguns tentam conciliar extremos, outros se indignam com os panos quentes dessa tentativa que consideram vã. “Total solidariedade com os que sofrem, total subserviência aos que infligem o sofrimento” diz Forastieri. Uns dão forma difusa ao sentimento de insatisfação, outros põe em dúvida se o momento é mesmo pior, questionam o estilo da escrita e  se o autor mesmo falando sério.

O que eu não sei, e duvido que algum deles saiba, é se diante das muitas formas, espetaculares e sutis, da violência se há alguma chance de encadeamento lógico no horizonte social do país – com certeza, em textos como o do Nuno ele não é necessário. Diante delas (das violências), eu não estou menos que atarantado e confuso. Certamente raivoso, conciliatório às vezes e impreciso em outras. Tento, mas acabo por escrever com o “espírito dissociativo de um artista”. Seja lá o que isso quer dizer.

 

 

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eduardo:

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