Homem interessado na moda ou moda interessada nos homens?
A socióloga Diana Crane (Moda e seu Papel Social: Classe, Gênero e Identidade das Roupas) situa a masculinidade na contemporaneidade e a representação dela na mídia, seguindo características fundamentais. Interessar-se por moda e pelos usos de vestuário, é geralmente interpretado como algo efeminado. Para um ‘homem de verdade’, a necessidade de preocupar-se com aparência deve ser praticamente inexistente, pois esta preocupação não faz parte das regras de conduta, comportamento e representação da masculinidade. Esta percepção é comumente encontrada em livros de moda e outras fontes. Na Internet também. Outro dia mesmo na página de um remédio para cólicas menstruais haviam diversas alusões ao que é coisa de homem e o que é de mulher (em todas elas a preocupação com aparência era algo inquestionavelmente feminino). Numa pesquisa rápida em blogs e sites para o público feminino e masculino também é notável que a preocupação com aparência e moda é uma das formas de diferenciar o homem da mulher.
O que dizer então sobre dados econômicos recentes (veja aqui) que mostram que a moda masculina representa atualmente 50 por cento do mercado de luxo mundial? Com varejistas exclusivos de moda masculina lotando as feiras de moda masculina, como a Pitti Immagine Uomo e as estratégias mudando também em casas de moda já estabelecidas? Na Versace, as vendas de moda masculina representam 46 por cento das vendas. E continuam crescendo. Este ano, Fendi abriu seu primeiro departamento de moda masculina fora de Roma. A Prada anunciou planos para abrir 50 novas lojas de moda masculina no mundo, para dobrar os R$ 2,5 bilhões arrecadados durante 2013. E, finalmente, o mercado de moda masculina no mundo deverá ultrapassar R$ 1 trilhão até o final deste ano.
Isto é o reflexo de uma minoria com alto poder de compra ou uma nova configuração da relação homem e moda? O mercado diz (estatisticamente) que o homem se preocupa com a aparência, mas ao mesmo tempo os discursos midiáticos e acadêmicos reforçam o contrário. O mercado tem regido boa parte dos comportamentos e inovações. A masculinidade vai ser modificada pelo mercado? Ou já foi e não fomos comunicados?
Foto: Dazed & Confused, Junho 2013 por Ben Toms
Compartilhe a sua opinião!
Seu e-mail não ficara público. Campos requeridos estão marcados com *