Streetwear NOW
Mais do que uma tendência ou um fenômeno momentâneo, o streetwear está profundamente entrelaçado com o comportamento contemporâneo.
A contracultura nos anos 50 e 60, as conexões entre cultura jovem e música, e a priorização do mercado jovem pela indústria da moda deram início ao que se convencionou chamar de antimoda.
A moda de rua é peculiar porque não tem referência direta na moda, seja no prêt-à-porter ou na alta costura. Por sua versatilidade e capacidade de superar rótulos, o streetwear tornou-se a expressão de muitas subculturas. Como parte de um novo discurso visual, ele nasceu carregado de mensagens transgressoras dentro de uma sociedade que se recuperava (moral, financeira e, também, fisicamente) de sucessivos períodos de guerra.
Movimentos juvenis e tribos urbanas ligadas ao skate, basquete, punk, hardcore, hip-hop formatavam e comunicaram sua identidade compondo um repertório de signos visuais com pontos comuns, mas incrivelmente rico e variado. A maneira como se vestiam era parte dessa expressão, de uma forma orgânica, não-organizada e, até então, não-comercial ou mesmo anti-comercial.
Uma base forte de referência foi sempre o hip hop, estilo musical com a marca da inconformidade. Nos espaços públicos dos centros urbanos, parques, ruas, estações de metrô, aparelhos gigantes reproduziam Afrika Bambaataa, Run-DMC entre outros. O streetwear era, portanto, uma expressão contextualizada de algo maior, comportamental, que acontecia justamente entre indivíduos de determinados guetos.
O cientista político Steven Vogel afirma que “Nem tudo o que é vestido nas ruas é automaticamente streetwear, e nem existe um dress code que faz do streetwear o que ele é hoje. Ainda assim existe um `entendimento não falado´ por aqueles que usam e aqueles que de alguma forma estão envolvidos com ele sobre o que ele é e, principalmente, sobre o que ele não é.”
Ao longo do tempo, o streetwear contou com grandes forças para se transformar de moda de tribos para uma grande indústria. Veja alguns:
1. Ele encaixou perfeitamente com o estilo de vida dos jovens habitantes de grandes centros urbanos entregando conforto, status dentro de grupos e uma estética adequada ao tipo de vida das cidades globais.
2. Teve a popularidade global do hip hop como grande motor de divulgação.
3. Foi uma das primeiras grandes expressões de moda feito por afro-americanos para afro-americanos. Com algumas exceções, a moda anterior era feita por brancos e para brancos.
4. Como é uma moda de “gueto”, o streetwear tem, por consequência, um público com um grau de convivência muito mais acentuado que os demais grupos sociais.
5. Um forte trabalho de identidade de marcas. As marcas são uma parte extremamente relevante no streetwear e proporcionam a identificação que é desejada por seu público.
6. As muitas identidades, cores e misturas possíveis.
Um dos efeitos mais interessantes da moda de rua é que ela inverte o sentido de influências, com ideias que saem do street style ganhando a mídia para depois chegar como produto e tendência ao mercado organizado.
De muitas formas, as marcas de streetwear abraçaram a hibridização de referências culturais e a moda que elas entregam hoje é um retrato deste histórico, um diálogo entre a música, a arte urbana e o comportamento no mundo globalizado.
Por não se tratar apenas de roupas, mas da expressão de um estilo de vida, a fidelidade às marcas que traduzem este estilo é um dos pilares de sobrevivência dos negócios deste segmento. A internet, com os fluxos rápidos de informação, troca de experiências e mecanismo de compra e venda, tornou-se outro aliado poderoso do streetwear.
Mais até do que o próprio hip hop, o streetwear transpôs os limites do gueto para fazer parte do dia-a-dia de milhões de jovens (de todas as idades) ao redor do mundo. Sabemos que o movimento é forte e tem o poder rejuvenescedor da autenticidade. Basta esperar se dele virão também algumas das respostas de que a moda tanto anda precisando.
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