Blogueiras, ensino e misandria

Blogueiras, ensino e misandria

13 de novembro de 2014 Moda 0

graducaoblogueiro

Margeando a SPFW foi anunciado o lançamento de uma “faculdade para blogueiras”. Não acredito que alguém duvide que a nova graduação mire no desejo de milhões de garotas de se tornarem elas mesmas celebridades instantâneas da mídia fashion, ícones para outras tantas e faturando alto enquanto operam como eficientes braços do departamento de marketing das marcas. Com exceção dos dois primeiros itens dessa lista, nada que outras graduações também não vendam como objetivos.

De fato, o curso se chama Mídias Sociais e Digitais, tem o aval de peso da experiente Carol Garcia, nome de respeito, e afirma apostar na identificação de um nicho que não seria coberto nem pelo Jornalismo nem pelo Marketing, nem pela Comunicação ou outra graduação afim. Ele também é fruto de uma estratégia assentada sobre a máxima da “oportunidade de mercado” e não é mero preconceito afirmar que a iniciativa tem potencial para ralear o já pouco espesso caldo da credibilidade do ensino na atualidade. Isso porque o curso assentou a divulgação sobre um fenômeno ainda em formação. Do tipo que ainda não produziu um corpo específico de objetos de estudos, se é que virá mesmo a constituir, e cujas demandas e particularidades poderiam, talvez, ser contempladas em outras graduações atendendo o desejo de ensinar a “fazer melhor” algo que de toda forma já está sendo feito, como defendem as contra críticas.

Não sou especialista. Sou generalista com gosto. Sei que é próprio do liberalismo econômico global disparar nuvens de anti-espessante, vindas da volatilidade do mercado, sobre o lastro denso e inevitavelmente lento do conhecimento. E todo mundo tem pressa, não é? E o ensino virou mesmo um puta produto, não é? De certo é o que diria o rapaz empreendedor.

Vamos ver no futuro no que é que isso dá, tem sido o consenso geral. Agora, não precisava ser vidente para imaginar as críticas que um enunciado com tal teor mercadológico, estabelecendo a conexão entre faculdade & blogueira & profissão, assim mesmo, com o gênero definido, atrairia. Não acredito que todos aqueles que se levantaram para falar do assunto – as redes sociais encheram-se de piadas a respeito – estivessem apenas sendo resistentes à ideia. É a propaganda do curso que contempla este viés de oportunismo, de misandria indisfarçada ao vender educação como se vende roupa de gênero em liquidação.

 

*Misandria: aversão ao masculino, análogo à misoginia.

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