Uma espiada na temporada de moda masculina
Embaladas pela sobrevivência do normcore, como suposto nicho de segurança comercial, muitas coleções insossas apoiadas por teorias complexas bateram ponto na temporada masculina. É o sem graça apoiado por um argumento de venda interessante. (E aí vai comprar?) Um tratamento de rock star no styling em geral e em algumas peças e coleções em particular cumpriu a função de dar um tempero de rebeldia a este contexto conservador.
Não é raro ver coleções mais conservadoras lado a lado com experimentações arriscadas. A dualidade da estação fica entre o normcore e as estocadas nas identidades de gênero. Algumas coleções elevaram o tom da conversa batendo forte na sexualidade, na exposição do corpo masculino e nas questões de gênero. Os maiores investimentos em, vamos lá, conceitos, se concentraram na apropriação do feminino. Mesmo que isto venha ocorrendo há mais tempo, há uma sedimentação de elementos e da prática em si que é um sinal claro de que a coisa não é passageira. Esta é uma discussão que mobiliza a sociedade e que a moda encampa à sua maneira. De fato, o que a moda masculina entrega de mais excitante atualmente está relacionado a este assunto. Os genitais expostos no desfile do Rick Owens ou os butt plugs do Beirendonck encostam na mesma conversa. O que chama a atenção, nem é o fato de varias coleções lidarem com este assunto e sim a sobrevivência deste embaçamento de gêneros como prática estável há várias temporadas. Também é notável que marcas como a Gucci, que já foi uma plataforma da masculinidade à italiana, rendam-se a essa nova perspectiva. De acordo com o que a moda anuncia nenhum gênero é dono de nada. O repertório que ela criou ao longo da sua história vai se dissociando da noção do que é de homem e do que é de mulher.
As surpresas em temporadas de moda ficam na capacidade de alguns criadores e marcas moldarem imagens potentes, que parecem ter algo a dizer em contexto além dela mesma. Pelo menos é o que esta moda insossa está devendo a quem gosta dela. Neste caso, Rick Owens fez a festa. Há raros precedentes para o que ele mostrou. A moda faz algo parecido em relação ao corpo feminino desde sempre. Passa ao largo quando o assunto é o corpo do homem. Owens identificou a falha e mandou ver. É comportamental o viés do que ele fez. O que o desfile mostra não é exatamente o que todos acham que viram, e sim a forma como reagimos.
A Commes des Garçons fez uma bela coleção misturando alfaiataria com streetwear. Os looks grafitados são muito bons. Outro ponto alto foi a apresentação furiosa e bela da Givenchy. Uma mistura infernal de estampas tribais com glitter e religiosidade.Também convincente a poética elegia à juventude do Raf Simmons. Coleções como estas três valem a temporada.
Outros pontos elevantes ficam por contas dos comprimentos alongados dos coletes, blusas e casacos. Tão presentes que a regra vale também para vestidos e saias, ingredientes do feminino abundantes nas passarelas.Vale falar ainda nas silhuetas ampliadas pelas calças largas, com barras que se acumulam sobre o sapato, e pela modelagem grande dos agasalhos. Saint Laurent fez skinnies memoráveis, mas a maioria das marcas entregou looks folgados e propostas confortáveis para os rapazes.
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