O festival que colocou os Yawanawa no foco da atenção dos nawa (nós, os brancos), e atraiu a atenção da Cavalera, acontece todo ano desde 2002. Surgiu de um esforço de preservação da cultura da tribo conduzido por Tuinkuru, um líder que lutou para que o povo Yawanawa não abandonasse as tradições.

Ao visitar e agora trazer índios Yawanawa para o desfile no gramado do parque, a Cavalera arrastou com eles um naco de Brasil profundo e extraordinário como suporte para a criação de moda. Há muita coisa a respeito desta tribo além do fato assombroso dela simplesmente existir e resistir com suas tradições ancestrais revigoradas nos confins da mata acreana. A primeira mulher pagé, Hushahu, é Yawanawa. Ela enfrentou a resistências dos homens da tribo, embrenhou-se por um longo período na floresta aprendendo com um xamã mais velho e suportou todos os rigores dos ritos iniciáticos. Comia quase nada e ingeria uni (ayahuasca) todos os dias. Como Xamã ela tem enorme importância na vida espiritual e estética da tribo Hushashu recebe visões em sonhos e introduz novos cantos e desenhos de pintura corporal nos rituais, além de motivos para os esplêndidos trabalhos de miçangas. Como mulher, ela reafirma a universalidade de alguns entraves das sociedades, sejam elas indígenas ou não.

O festival conjura as forças anímicas da natureza através da pintura, cores, cantos, danças, transe e batuque em um rodopio alucinógeno no meio da selva tropical. Põe em cena toda a subestimada exuberância da cultura do índio brasileiro. É de encher os olhos nawa.

Na roupa da Cavalera entraram interpretações do kene, desenhos tribais de significado espiritual, em bordados e estampas.

Notas

Os bordados da coleção Cavalera foram produzidos na India

Em 2013 o Mariri Festival da aldeia Mutum contou com o patrocínio da Aveda, empresa americana de cosméticos que usa o urucum como ingrediente.

Neste momento  os políticos brasileiros estão prestes a assinar  a PEC 215 mudando as regras de demarcação de terras indígenas. Para muitos,ela pode inaugurar mais um capítulo sombrio na extinção do índio no Brasil.

Créditos imagens: Capa Agencia Fotosite Foto 1: Marcos Lopes e Agencia Acreana de Noticias; Foto 2 Sergio Vale; Fotos 3 e 4 Agencia Fotosite