A semana de moda de Milão está chegando ao fim. Entre os diversos desfiles, o lifestyle do homem italiano, tanto o tradicional como o contemporâneo comparece em marcas já consagradas. Uma onda de ‘ok já vi isso, cadê a novidade?’  domina boa parte das apostas. Mas eis que no meio do caminho havia uma pedra. Não uma, haviam duas: Gucci e Prada. Dois desfiles tecnicamente impecáveis. Duas propostas diferentes – até que enfim!

Na Prada, a fusão de opostos parecia ser um motivo predominante, alfaiataria e sportswear luxuoso, python com nylon e couro sintético escorregadio, pernas e peitos expostos contrapostos a áreas fechadas, mistura de modelos homens com mulheres na passarela. (Prada já havia mostrado sua linha de moda feminina resort em conjunto com a masculina). Tudo isso em uma coleção que também explorou elementos da infância de garotos, com estampas de foguetes e carrinhos de corrida sobre jaquetas, vestidos e blusões. Um lindo trabalho, delicado, chique e principalmente jovem e atual.

Juventude e delicadeza também são pontos fortes na estética new punk meets granny que Alessandro Michele trouxe à Gucci. Ele faz isso através de um casting no qual é difícil diferenciar meninos de meninas; do uso abundante de materiais, técnicas e efeitos delicados como crochet, bordados, apliques, rendas e ilhós de malha metálica, geralmente associados a ingredientes “femininos”; e através de formas e silhuetas de anatomia incerta apoiando a noção de que o sexo é mais sobre o que está em sua cabeça do que em suas calças.

Cada um a seu modo e explorando particularidades, os dois desfiles deixaram de lado as barreiras de gênero, reforçando as discussões sobre o fim da moda generificada e das semanas de moda divididas entre coleções masculinas e femininas (Is it time to ditch gendered fashion weeks?) reafirmando o espaço das novas expressões da masculinidade na moda.

Como já dizia Pepeu Gomes:

Ser um homem feminino

não fere o meu lado masculino

se Deus é menina e menino

sou masculino e feminino.

imagens: divulgação