Quem tem medo do nu masculino? por Ramon Steffen

Quem tem medo do nu masculino? por Ramon Steffen

3 de setembro de 2015 Arte, Moda, Opinião 0

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A primeira grande cultura a celebrar a importância dos corpos masculinos foi a Grécia antiga, com festivais religiosos frequentemente incluindo competições atléticas em que homens jovens nus demonstravam a sua destreza física e competiam por honra. Infelizmente para os admiradores do corpo masculino e do nu artístico em geral, o cristianismo colocou um fim nisso durante o império bizantino, introduzindo ideais cristãos e demonizando o corpo nu. O corpo masculino, nas artes, garantiu seu espaço novamente durante alguns períodos da história. Mas foi o feminino que protagonizou grandes obras e entrou para o imaginário coletivo. Embora o nu feminino seja geralmente exibido nas melhores paredes de museus, o nu masculino tem conseguido manter uma aura de contravenção, até os dias atuais. Ele ainda incomoda as pessoas.

A visão do pênis se tornou um grande problema para as sociedades ocidentais. Na indústria do cinema, principalmente Hollywood, é raro ver a figura masculina nua, enquanto a feminina já é considerada lugar-comum. Homens nus estão quase sempre associados à distopias.

Em Laranja Mecânica (1971), por exemplo, vemos a nudez masculina primeiro quando o anti-herói estupra e mata uma senhora. Em outro momento, a nudez é vista quando ele é obrigado a despir-se na prisão. Outra maneira de expor a nudez masculina na ficção-científica é, por exemplo, quando homens revelam sua verdadeira identidade, como o alienígena interpretado por David Bowie em The Man Who Fell to the Earth (1976).

É estranho como adoráveis corpos masculinos são quase sempre colocados em exposição nestes filmes em contextos para que o público se sinta desconfortável ou perturbado por vê-los. Até em séries como Game of Thrones, em que há nudez para todo lado, ela é majoritariamente feminina. Sendo fã da série, ainda espero ansiosamente para ver, um pouco que seja, de nudez frontal masculina.

Pensando agora na área da moda e publicidade, a admiração pelo corpo masculino, por exemplo, só foi amplamente explorada depois da famosa campanha da Calvin Klein em 1982. Entretanto, enquanto a nudez feminina é, de certa forma, aceitável, a masculina ainda gera discussões e críticas negativas. Caso do desfile de Rick Owens em janeiro deste ano, com as túnicas que deixavam o pênis livre, e muitas vezes visível, que causou a ira de vários setores da sociedade.

A liberação do pênis no imaginário coletivo é uma das lutas de setores artísticos e da moda nos dias de hoje. Além de Rick Owens, outras personalidades estão abrindo a discussão como por exemplo, Kevin Bacon e a campanha #freethebacon que pode ser vista no vídeo abaixo:

No Brasil, projetos que exploram a nudez masculina de forma artística tem ganhado espaço e notoriedade como o ‘Chicos’, um projeto/publicação de arte, gay e independente composto de entrevistas + ensaios relacionados com a experiência pessoal e coletiva do que é ser gay hoje, a relação com o corpo masculino, descobertas e opiniões.

Outro projeto bem sucedido é o Snaps Fanzine, que já está coletando fundos no catarse para publicar a 4ª edição. O SNAPS é um projeto de arte, imagético. Mas também é um processo de pesquisa que visa entender o ideal da beleza clássica ocidental, da sexualização do corpo jovem desejável, que por tanto tempo foi escondido sob arquétipos e subterfúgios.

Para finalizar, vou utilizar este vídeo do Silvio Santos que dá voz aos anseios por mais nudez masculina na moda, na mídia e na arte.

 

Imagens: Snaps Fanzine. Foto: Gianfranco Biceño

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