O que a NYFW tem a oferecer?
Graças a alguns criadores e às autoridades locais (que proibiram a realização dos desfiles no Lincoln Center obrigando-os a se espalharem pela cidade) a semana de Nova York entregou algo a mais que mornidão. Entregou dispersão e o caos do trânsito, é verdade, mas também a diversidade de cenários e um painel estimulante de diferenças, dessa vez liberadas da obrigação de coexistirem em uma mesma caixa.
Quanto às roupas, nunca se deve tirar o mérito do eterno pragmatismo americano, sempre rendendo bons básicos e inesgotáveis versões do minimal como que por vocação. Além disso, o fruto mais valioso da terra, Marc Jacobs, traiu as más expectativas com uma esfuziante ode à América e à imaginação. Tio Sam agradece o surto patriótico e a moda agradece a exuberância criativa.
Outro fato memorável: a participação da Givenchy. O nomadismo concebido como estilo por Ricardo Tisci agora é geográfico de fato. Aproveitando a inauguração de loja da marca na cidade, ele deslocou a apresentação do palco tradicional que é Paris para a Big Apple. Nada menos que a consistência habitual e a incrível capacidade de falar com o tempo presente cruzou a passarela. Um deleite para quem gosta da coisa. Um frisson para a horda de celebridades, aficionados e anônimos que puderam retirar convites e tomaram de assalto a sala de desfile.
Mas volto à prata da casa. Esta bem nova. Que sorte a de Nova Iorque ter gerado a Hood By Air! A marca, que é a cara da cidade e uma das melhores soluções antimonotonia surgidas nos últimos tempos, fez sua mágica outra vez.
Proenza Schouler é um assunto de respeito. Vai bem a marca, vão bem as coleções. Determinados que são em operar com qualidade de execução, de matérias primas e principalmente das ideias, Lazaro Hernandez e Jack McCollough tem entregado coleções realizadas de forma tão competente quanto destemida. E não é que essa mistura de romance, latinidade e esporte, feita deliberadamente com mão pesada, funcionou?
De origem espanhola, Altuzarra captou o desejo por serenidade e qualidade que movimenta boa parte do mercado. De alguma forma, com este luxo calmo, de pitadas étnicas, e peças aparentemente fáceis, ele mira e acerta o gosto da hora sem recorrer à banalidade.
Quanto ao Alexander Wang, é admirável que ele estabeleça vínculos fortes com a autenticidade da roupa de rua, que diga não à narcose do glamour fácil, mas é uma linha tênue a que separa a referência da mera apropriação. Parece tateante o rapaz, em busca de algo no pós-furacão Balenciaga. Mas ele tem crédito para isso.
Com apresentação estática e toda ela sustentada por referências amazônicas, a Osklen estreou bem. Foram favoráveis as críticas à sofisticação rústica e sustentável defendida pelo Oskar Metsavaht. Pergunto-me como será administrar essa mesma imagem estação após estação no cenário internacional.
Faltaram ooohs! para que a anunciada virada da DKNY se concretizasse. A dupla Dao-Yi Chow e Maxwell Orborne, recém-contratados para o feito, foram corretos, cautelosos, mas não mais que isso. Saíram-se melhor na marca própria, a Public School, com fluidez sem romantismo e o excelente tino para o urbano que lhes deu popularidade.
Michael Kors e o american way de fazer moda, Phillip Lim, desta vez administrando a veia esportiva com tons neutros e cortes arriscados, Rodarte com as superfícies inexplicáveis, a precisão do Narciso Rodriguez, Jason Wu e Prabal Gurung são outros bons motivos para conferir NY.
“além da roupa funcional de sempre, uma dose maior de criatividade e risco”
Como tentativa de responder um pouco mais à pergunta do título, – O que a NYFW tem a oferecer? – diria que, além da roupa funcional de sempre, uma dose maior de criatividade e risco. Se não rivaliza em glamour com Paris ou Milão ou em ousadia com Londres, a informalidade e o senso prático de NY oferecem um modelo de Fashion Week horizontal, permeável à vida cotidiana, que é a cara dos tempos atuais. Tem também o talento de Jacobs, agora concentrado apenas na marca própria e, aparentemente, em fazer algo pela cidade e pela moda americana. Por conta da atual apresentação no Ziegfield Theatre, um cinema histórico, palco de grandes lançamentos, no momento em decadência, já se contabilizam ganhos, mas ainda há muito o que se lucrar com o empenho de Jacobs.
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