CADÊ A TAL DA ROUPA SEM GÊNERO?
“Eu não vejo roupas de homens e roupas de mulheres, eu só vejo pessoas assustadas e pessoas confortáveis.” Essa declaração é de Jaden Smith para a GQ britânica de março. O jovem ator que também é garoto propaganda da linha feminina da Louis Vuitton mantém um discurso que reflete a maneira que muitos jovens pensam sobre roupa e identidade de gênero hoje em dia. Dados de um estudo divulgado recentemente apontam que a geração nascida a partir dos anos 2000 é muito mais mente aberta em relação a gênero e sexualidade que qualquer outra geração anterior. Mais da metade dos entrevistados se declararam bissexuais e um terço deles acreditam fortemente que o gênero não define uma pessoa da mesma forma que no passado.
Enquanto isso, a moda vem tentando correr atrás desse filão. Nas passarelas, marcas consagradas como Rick Owens, J. W. Anderson e outras tantas já desafiam essas noções há muito tempo. De algumas temporadas para cá, outras marcas também partiram para algumas experimentações, como na estreia de Michele para a Gucci (Roupa de menino e menina. Prada e Gucci em Milão). Recentemente, gigantes do fast fashion aderiram à causa – ou pelo menos tentaram. A Zara aventurou-se com a coleção ‘ungendered’, mas acabou dando um belo tiro no próprio pé. As roupas selecionadas nada mais são que básicos do dia a dia com novo nome, um rebranding e não uma imersão num movimento. A H&M trouxe modelos de diversas idades, tamanhos e identidades de gênero para a passarela em Paris e mais recentemente colocou Caitlyn Jenner como garota propaganda da linha esportiva. Mais discretamente, a C&A em um vídeo de divulgação da nova coleção – que tem como mote a mistura – colocou homens e mulheres correndo nus e vestindo roupas encontradas pelo caminho, incluindo um homem de vestido floral e uma mulher de cueca. Mas nem todo mundo conseguiu ver isto, o take de apenas 2 segundos é a discreta contribuição da marca. Apesar do discurso e dos 2 segundos de vídeo, nem o restante da campanha traz nada de novo em relação as roupas sem gênero, nem as lojas o fizeram. Elas continuam segmentadas, sem misturas, com cada um para seu lado.
Durante muito tempo a diferenciação entre gêneros funcionou como forma de controle e normatização de uma sociedade baseada na dominação masculina. Principalmente na moda, como já dissemos em O que Vestir Quando Não Há Gênero?. Então não será da noite para o dia que vamos começar a ver a ‘revolução’ da moda sem gênero que os jovens tanto esperam ver. A questão de diferenciação de gêneros está profundamente enraizada não só na sociedade, mas dentro do próprio vestuário, tornando a lógica do sistema da moda impossível de se erradicar instantaneamente. Pensando desta forma, é possível ver o lado positivo de ações pontuais como as da Zara e C&A mas, ao mesmo tempo, se grandes marcas continuarem nessa área imprecisa e sem tomar riscos por muito tempo, a moda acabará por se tornar irrelevante como forma de expressão de uma geração e, se a moda não reflete o tempo, a sociedade e as mudanças culturais, podemos decretar o fim da sua existência.
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