Há boatos de que o desfile Resort 17 da Chanel em Cuba seria o último de Karl Lagerfeld à frente da marca. Se isso for verdade, o kaiser sai em grande estilo, com mais um de seus desfiles megalonamíacos – 160 metros de passarela no tradicional Paseo del Prado não é coisa pouca.

O evento em Cuba foi, mais do que a apresentação da coleção, um grande choque de realidade. Uma marca de altíssimo nível e as mais importantes figuras do mundo da moda visitam um país que recém abre-se para o século XXI, para o capitalismo e para os cartões de crédito. Os 600 convidados da maison foram trazidos para Havana e puderam visitar a cidade antiga, fábricas de charuto e andar pela cidade em coloridos carros americanos vintage. O desfile foi menos instagramado do que o esperado, mas o motivo é que sinal de wifi ainda é novidade em Cuba.

O escritor e dramaturgo cubano Antón Arrufat, de 80 anos, assistiu o desfile de sua sacada e o descreveu: “Trata-se de um passeio longo e estreito que possibilita uma melhor apreciação dos modelos por parte do futuro comprador, neste caso, imaginário, pois os cubanos não têm dinheiro para comprá-los”. Engana-se ele quando pensa que o desfile era para os cubanos.

Quanto às roupas, muitas elementos da cultura cubana perpassam a coleção. Na estampa com os carros antigos e na modelagem fazendo referência à tradicional camisa guayabera. Os chapéus e charutos complementam o visual cubano, quase beirando o caricato. Mas fico pensando o que Che Guevara acharia da boina em paetê com aplicação da bandeira de Cuba – que com certeza não será barata quando chegar ao mercado.

Enquanto isso, o povo cubano observou tudo das sacadas das casas antigas.