BELEZA E VIOLÊNCIA NA ÁFRICA DE FABRICE MONTEIRO

BELEZA E VIOLÊNCIA NA ÁFRICA DE FABRICE MONTEIRO

9 de fevereiro de 2017 Moda 0

fabrice monteiro capa

Filho de pai africano e mãe belga, Fabrice Monteiro é artista e fotógrafo. Um criador de imagens fortes captadas com igual intensidade em séries visualmente diferentes entre si. Do fotojornalismo – no melhor estilo far niente de um Lartigue – ele passa para encenações dramáticas e distópicas sobre poluição.  Com a mesma desenvoltura reinterpreta mulheres negras e poderosas do período colonial em cenas de alto teor fashion.

O ponto em comum entre cada série, além da potência das imagens, é a África. Ele retrata o continente de forma desconcertante para nossos acomodados olhos brancos. Eletrizante, futurista, arcaica, sensual e desafiadora a África emerge em imagens de beleza e violência sem disfarces.

O trabalho dele corrói a ideia de um mundo em que a periferia eurocêntrica não tem relevância na construção da sensibilidade e das ideias do nosso próprio tempo.

A Gorean Summer


No passado, estas areias repletas de corpos desfrutando as delícias de verão era um local de comércio de escravos. No trabalho de Monteiro o perigo está sempre ali, mesmo se você não o vê. Sob a capa de sensualidade e indolência, a crueldade da história espreita. Implacável.

The Signares

As signares eram mulheres africanas controvertidas e poderosas no período colonial. Algumas eram proprietárias de grandes porções de terras e escravos e se casavam com homens europeus. A prática destas uniões surgiu entre britânicos, franceses e portugueses como forma de ter acesso à influência delas entre os locais.

Um ponto em comum entre as signares era o fato de serem belas mulheres. Outro ponto é que sua história é recheada de relatos aventurescos. Em dado momento haviam se tornado tão poderosas que as cortes europeias iniciaram campanhas sangrentas contra elas. A resistência foi igualmente feroz.

A proximidade de Monteiro com a moda fica explícita aqui. Ele recria estas figuras com extremo requinte e propriedade. Depois de citar Lartigue chamo a atenção para a ressonância de um Cecil Beaton na forma como ele encena e veste estas mulheres. No caso de um artista alinhado com o pós-colonialismo, a proximidade com a estética de fotógrafos europeus históricos surge mais como comentários do que simples referência.

The Prophecy

Estas espetaculares fotografias de Fabrice Monteiro tratam da devastação ambiental que assola o Senegal. A parceria com a designer de moda senegalesa Doulsy rendeu representações de entidades que surgem de detritos tóxicos e do lixo contaminando tudo á sua volta.

“Toda a África Ocidental acredita em espíritos”, ele explica, “e a ideia era usar esses espíritos para entregar uma mensagem”.

 La voie de Baye Fall

Nesta série, Fabrice joga com os códigos de gênero para mergulhar na história do continente. A imersão na comunidade sufi muçulmana Baye Fall, em Dakar, no Senegal, é outro pretexto para ele apresentar civilizações do Oeste Africano. Fé, vestuário, rituais e transes são captados em uma peregrinação e em uma enorme oração coletiva.

“Eu estou interessado em como a África está relacionada com a minha dupla cidadania. Considero-me transcultural, uma parte de mim é ocidental, outra africana. Minha fotografia é uma ponte entre esses dois mundos. Eu uso os códigos da moda porque aprendi a fotografar através do prisma da moda. “

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