ALTA-COSTURA OUTONO-INVERNO 2018: TEMPOS CINZENTOS

ALTA-COSTURA OUTONO-INVERNO 2018: TEMPOS CINZENTOS

14 de julho de 2017 Calendário, Moda 0

 

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Dior

São tempos difíceis para os sonhadores, diria Amélie Poulain.  A realidade, nessa temporada de Alta-Costura outono-inverno 2018, parece concordar com essa opinião e é observada através de um monóculo de estranheza. A arte de subverter, tipica da Couture, encontra as vias do político, do mistério, das crenças e da incompreensão, cada qual tentando lidar com sua parcela do absurdo nestes tempos cinzentos. 

“Achamos que a realidade está tão estranha no momento, por que não mostrar o lado surreal dessa realidade?”, diz Rolf Snoeren, da dupla Viktor & Rolf. Na apresentação da marca, bonecas gigantes, como saídas de uma toy-arte surrealista, atuam como avatares de um mundo melhor ambicionado pelos estilitas. É um manifesto pela união em profusão de patchworks, em cores quentes, que disputam por uma fenda entre as cores invernais de eras tempestuosas. Mas não é só na Viktor & Rolf que a moda busca na arte respostas para os transtornos atuais. Na Schiaparelli, artistas contemporâneos da fundadora da marca, Picasso e Braque entre eles, aparecem como referências em tules e bordados e levantam os mesmos questionamentos de outrora. Questionamentos esses que se expressam na Margiela assim como se manifestavam na arte de Duchamp.

Os tons de cinza continuam seu trajeto e desembarcam na Dior e na Chanel. Ambas as marcas lançam seus olhares para o passado como forma de ilustração alusiva dos nossos tempos. Na Dior, Maria Grazia desafia o conservadorismo sexista e faz suscitar o movimento sufragista numa Belle Époque de concreto. Na Chanel, por outro lado, a homenagem à construção da Torre Eiffel traz o cinza como símbolo de resistência ao conservadorismo estético que o projeto enfrentou na época.

O cinza invade a passarela da Armani Privé em forma de mistério. Para construir a atmosfera de algo oculto, camadas e camadas de tules bordados fizeram alusão às sombras e crepúsculos. É válido dizer que o cinza é uma das cores tradicionais da Armani, mesmo assim, nessa temporada, a busca por algo  além da razão excedeu a tradição. Como aconteceu na Jean Paul Gaultier — que tinha como temática o Esqui, mas, que em determinado momento, fez surgir na coleção peças e cores que remetiam à cultura indiana.

A temporada de Alta-costura Outono-inverno 2018 deixa no ar a mesma sensação de um quadro de Dalí, uma vez que a realidade está derretendo tão fugazmente em uma superfície tão lisa que nem botões ou zíperes são capazes de amparar.

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