A ESTÉTICA DO ESPETÁCULO E A RESISTÊNCIA NO DESFILE DA GUCCI

A ESTÉTICA DO ESPETÁCULO E A RESISTÊNCIA NO DESFILE DA GUCCI

25 de setembro de 2017 Moda 0

Ao entrar na sala de desfile para assistir a apresentação da Gucci, a primeira provável sensação que se tem é a de que se entrou pela porta errada e que o destino a frente se abre como um museu de cronologia confusa. Entre estátuas do Egito Antigo e efígies gregas, a miscelânea estética do cenário vai se depurando em trilha sonora dramática e jogos de luzes de uma rave pós-contemporânea. É neste momento, que tudo fica claro e Alessandro Michele prova, mais uma vez, que sabe fazer um bom espetáculo.

Se uma onda de normatividade e neoconservadorismo assola o mundo, Michele declara que a criação e a criatividade são atos de resistência. Para a coleção de primavera verão 2018, ele alinha ícones da cultura gay como Elton John e Bob Mackie a um espírito multiculturalista que vai da arquitetura asteca a interpretações retro-futuristas dos anos 80. No reino que ele propõe, mais é muito mais do que mais.

Essa Gucci altamente referenciada e potencialmente engajada, também repensa suas práticas de plágio da temporada anterior: ao invés de apenas referenciar criativos como Dapper Dan, a marca resolveu dar créditos e propor parcerias — com o próprio Dan aceitando o convite dessa vez!

Mas, as inspirações iconoclastas e parcerias não param só no criador norte-americano que plagiava e desconstruía a Gucci. Elton John assina algumas peças da coleção e relembra os figurinos que usava nos anos 70, desenvolvidos pelo genial estilista Bob Mackie.

Nas alegorias de Michele, camisetas inspiradas em pacotes de Marlboro dividem espaço com coletes bordados com o personagem Pernalonga. Vestidos esvoaçantes com um milhão de strass e capacetes de motociclistas cobertos de lantejoulas são apresentado ao lado de macacões brancos de cetim à la Evel Knievel.

A esquerda, Elton John nos anos 70. A direita, look da passarela primavera 2018, da Gucci.

O espírito de festa underground que leva a sobreposições inusitadas de décadas passadas, e que levanta todo o fervor da auto-expressão, é uma força alusiva às boates nova-iorquinas LGBTs dos anos 70 — período em que a expressão individual carecia de ambientes fechados para ser exercitada.

  • Portanto, lá estavam, os glitters, os acetinados, os peluciados e os estampados psicodélicos em alfaiataria precisa e roupagem, por vezes, quase sacra. Tudo isso misturado a óculos de sol em estilo sci-fi, cabelos de secretária dos anos 80, medalhões com muita logomania e ombros poderosamente marcados. dress power sofisticado em Um show Disco ao gosto renascentista.

A esquerda, figurino de Elton John desenhado por Bob Mackie. A direita, look saída da passarela primavera verão 2018, da Gucci.

No backstage da apresentação, Alessandro Michele disse que a coleção era “sobre todas as coisas que não são acreditáveis”. E se depender do seu universo monstruosamente povoado, o que se viu desfilar por lá — em época de absurdos mundiais — pode sim ser considerado surreal.

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