HIGHLIGHTS DA SEMANA DE MODA MASCULINA DE LONDRES OUTONO 2018
E fica aos encargos da Semana de Moda Masculina de Londres a tarefa de abrir o circuito das grandes temporadas de moda de 2018. Com apenas três dias de evento e marcas importantes de fora do line-up, a semana londrina ainda surpreende com apresentações de gosto intenso e criatividade em riste.
O que parece, pelo menos nos últimos dois anos, é que o público da moda se estratificou em dois pólos: os neófitos e os praticantes. No campo dos neófitos, o conforto e a banalidade são bandeiras hasteadas. Jeans e camiseta branca é statement. E básicos tornam os desligados no assunto em fashionistas à luz do dia. Os praticantes, por outro lado, já estavam aqui. Com pequena mudança de styling e centrífuga de referências, eles sobrevivem a cada temporada.
A líder dos néofitos é a imparável Vetements. Em duas ou três apresentações dessa marca, que não declara nacionalidade, o mercado já estava ao seus pés repensando estratégias e imagens da moda. A frente dos praticantes está a Gucci. Sob comando de Michele, a marca italiana unificou os hipsters do mundo e lhes deu emancipação do termo, criando personas que celebram a história da moda e os áureos tempos em que ela ainda se confundia com a fantasia.
Tudo isso aqui já foi dito antes e pode se dizer que é consenso público. A questão que interessa é o posicionamento das marcas nesse sistema polarizado. Como estilistas novos e tradicionais dividem a sobremesa da moda, compactuam ou desprezam os sinais e, eventualmente, acabam respingados por ela.
Um dos casos frescos da semana londrina é do novato Charles Jeffrey Loverboy. Nessa temporada, o estilista inglês apresentou a sua segunda coleção. E ao final dela, já estava sendo chamado de nova estrela do circuito. Com espírito viviannesco, Loverboy transformou o bullying que sofreu na infância em Glasgow em performance e moda-manifesto. Os ecos de indumentária escocesa misturados a elementos cênicos hipercoloridos consolidam seu estilo.
Na MAN, a inconstância na edição das peças do desfile se refletiu também nos modelos que as carregavam. De todos os rostos, formas, cores e tamanhos, a moda ali era só um acessório. Começando pela bolsa dentro de outra bolsa de vidro — Metáforas?
Na Kiko Kostadinov, a manifestação política veio em tom criptografado. Perucas à la Trump foram usadas por modelos de diversas etnias que cruzaram a passarela com peças de modelagem solta, tons terrosos, abrindo em color blocking de tons pastel.
Poderia-se muito bem falar de como a alfaiataria da Xander Zhou incorporou elementos esportivos dos anos 90 à estética e identidade asiática da marca. Ou como os tons ácidos se tornaram amigáveis da paleta outonal européia, com Xander Zhou misturando os tons terrosos clássicos à paleta mais aberta. Mas a Xander Zhou só entrou mesmo nessa lista por causa de seu curioso, ou seria aterrador, sapato godzilla.
Na Liam Hodges, elementos tradicionais do quase obsoleto guarda-roupa masculino usual , a julgar por Londres, são subvertidos em styling alegre e paleta de cores vivas. O inverno britânico é muito mais efusivo do que podemos imaginar.
A Concept Korea também embarcou no inverno ácido e trouxe uma paleta de cores quase infantil, com styling na mesma vibração. O universo lúdico dos xadrezes coloridos e das suéters de lâ com cara de feito a mão criam a figura de um gangster de brincadeirinha.
Encerramos essa matéria com Vivienne Westwood que, ao invés de desfilar a coleção, preferiu fazer um fashion film ativista para comunicar a estética suplicante das roupas embuídas de manifesto social. Intitulada “Don’t get killed” — algo como “Não seja morto”, Lady Westwood mostra que punk mesmo é cuidar da saúde do mundo.
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