HIGHLIGHTS DA SEMANA DE MODA MASCULINA DE PARIS OUTONO 2018

HIGHLIGHTS DA SEMANA DE MODA MASCULINA DE PARIS OUTONO 2018

31 de janeiro de 2018 Moda 0

Walter Van Beirendonck Outono-Inverno 2018

Com line-up corpulento, a Semana de Moda Masculina de Paris oscilou entre agito e placas de sinalização de silêncio. Ao que parece, com o masculino da Balenciaga se aliando à semana feminina, e a Vetements, por alguma razão celestial ou mercadológica voltando às passarelas, a moda dos meninos se assenta em terreno entre-portas: de um lado o medo da renovação, de outro o destemor de experimentar.  

Enquanto a semana de moda masculina parisiense rolava no andar de cima, no andar de baixo uma notícia parecia interessar o público bem mais do que alguns desfiles prestes a serem vistos: Hedi Slimane assume a direção criativa da Céline.

Para quem está habituado com o jogo das cadeiras do mundo da moda, esse seria mais um anúncio para a conta dos muitos que acontecem a cada estação. No entanto, logo se tornou um acontecimento. Alguns começaram a dizer que o minimalismo chique da Céline estava com o pescoço na guilhotina. Outros que o lugar seguro da elegância austera e inteligente que Phoebe Philo instaurou durante dez anos de mandato à frente da marca francesa estava com dias contados com a chegada do rockstar Slimane. Todos os argumentos são sustentados pela passagem personalíssima dele na Dior Homme e na YSL.

O grande ponto de interrogação que nasce com esse acontecimento não é sobre o que Slimane fará em sua estréia em setembro — e ele com certeza fará algo sem rendição a pressões —  mas como esse momento pode fazer subir o termostato de interesse pela moda.

Não se trata, contudo, de querer alcunhar Slimane como um possível salvador. Longe disso. É querer, na realidade, dar armas para quem opera no destemor de experimentar.

Seguimos aguardando. Enquanto isso, veja alguns desfiles da semana masculina de Paris.

As informações sobre o desfile entregues pela Officine Générale, antes da apresentação, comunicavam de maneira direta que o estilista não tem a obrigação de inventar a roda, caçar a mosca branca ou repensar cada um destes provérbios a cada nova estação. A roupa pode chegar a passarela isenta do compromisso de atualização ou minimante reciclada. Dessa forma, a coleção trouxe de volta o fascínio pelo lencinho francês no pescoço, a sobreposição balanceada da paleta invernal e peças em linhas retas e sóbrias. Roupa sem mistérios, alinhada com o que a marca declara pensar sobre o assunto.

Por outro lado, não foi o que se viu na passarela da Walter Van Beirendonck. Mistério aqui é a palavra-chave. De volta com temática fetichista, o criador belga construiu um exército de meninos vestidos por capas de chuva com silhueta de porco em látex colorido . A palavra “pig”, aliás, surgiu em suéters e calças estampadas e classifica todo o tipo de sexo feito sem consentimento de alguma das partes envolvidas.

O homem da Dior Homme tem a pretensão de ser sofisticado e ser chamado de charmoso. Para isso, Van Assche mergulhou na história do próprio Christian Dior e, dessa historiografia, resolveu agraciar os meninos com uma versão revisada do Tailleur Bar, a parte de cima do clássico New Look, de 1947. Acinturados, com abotoamentos dos mais diversos e lenço no pescoço de espírito boêmio, blazers mais sérios vão se misturando a personagens clubbers, de gosto noventista e cool.

Falando em história, a primeira coleção do estilista andaluz Palomo Spain apresentada em solo francês chegou com verdadeira pompa real. Inspirada em vestimentas monárquicas de caça, Spain levou à passarela modelos de doce androgenia vestindo veludo vermelho-sangue, corpetes de seda, roupa íntima de renda e chapéus napoleônicos cobertos por penas. Enquanto público flertava com modelos e o cenário, Spain criou, abaixo do nariz de todos, uma narrativa quase cômica. Pregou o fabuloso em tempos que usuários do prático abominam a liberdade de imaginação.

Na passarela ladeada por tochas de chamas altas, a Hermès deu poder a seus cavalheiros templários em suéters e jaquetas de suede estampadas por paisagens escandinavas. A calça verde oliva — de tonalidade entre as favoritas da temporada — encontra jaquetas de corte sessentista. É a interpretação descomplicada e limpa das cruzadas feita pela marca francesa.

Talvez seja de um nadador. Talvez seja de um aviador. Ou talvez seja da terra mesmo que John Galliano extrai sua primeira coleção masculina para a Martin Margiela trazendo adereços plásticos de cabeça — usados por qualquer um dos citados acima — em uma coleção que fala sobre sinergia. A alfaiataria cênica de Galliano entra em trabalho cooperativo com os elementos desconstrutivistas da casa francesa. Um mergulho profundo, se assim pode se dizer.

“Verdade. É mais importante do que nunca” está escrito em uma das primeiras peças que cruzaram a passarela da Sacai. O tom político parece querer livrar a coleção de qualquer indício de pós-verdade, fake news e engatar uma linguagem que se preocupa em falar mais sobre choque de fronteiras e colisões culturais. Nesse campo de misturas, jaquetas agrupam pelúcias, tweeds, tricô, plastificados em styling que une padronagens clássicas de xadrez à padronagens indígenas. É o patchwork cultural da Sacai.

Não era a toa que os trench coats da Louis Vuitton vinham estampados por montanhas de areia: as dunas do tempo escorreram para Kim Jones em sua última coleção masculina para a casa francesa.  A marca propôs um homem que faz as vezes de explorador de montanha gelada, ou de fashionista vestindo jaqueta laminada em couro exótico curtindo as férias nos alpes. Com exceção dos poucos acentos de tons fluorescentes e ácidos, predominam fortes texturas minerais em paleta ampliada de cinzas e chumbos. A coleção seguiu em clima abaixo de zero. O sistema de calefação da passarela só estabilizou quando as supermodelos Naomi Campbell e Kate Moss atravessaram-na para se despedir de Kim. Certamente, uma despedida daquelas.

 

 

 

 

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