DFB FESTIVAL 2018: QUARTO DIA
Ao quarto dia do DFB foi dada a tarefa de encerramento de um evento que começou com expectativas lá em cima e terminou em alta voltagem. Palestras do Dragão Pensando Moda, show de Karol Conka e devidas menções honrosas ao Senac Sergipe, ganhador do Concurso dos novos com uma coleção inspirada no Bispo do Rosário. O line-up do dia IV não foi encerrado por David Lee, mas todos agiram como se fosse: a coleção do estilista prodígio é digna de um fechamento de ouro.
desfile BRUNO OLLY
Forças externas e transcendentes povoam a coleção de Bruno Olly. A espiritualidade nos tempos modernos e o homem que sabe rezar para os seus orixás infiltram-se em peças que falam sobre a multiplicidade do masculino. Para ele, é inegociável o fato de que o rosa quartzo tenha se tornado a cor do homem contemporâneo. A primeira parte da coleção, traz um exército dessa cor em jaquetas crooppeds, moletons oversize e macaquinhos de sarja. Seguidamente entram as jaquetas com padronagem de cordel, camisetas mullets e macacões de textura brilhosa. Bruno ainda ensaia uma alfaiataria em camisas que e substitui a gola clássica por gola de jaqueta acompanhadas por calça ou jaqueta de crochê. Para o estilista, o novo uniforme masculino é jeans, camiseta branca e jaqueta cor de rosa.
desfile Ronaldo Silvestre
Uma enfermiça nostalgia inflama a coleção Memórias Afetivas de Ronaldo Silvestre. A apresentação dotada de forte bucolismo é homenagem a todas as mulheres que passaram pela vida do estilista. Na trilha sonora, Chico Buarque canta “Uma saideira, muita saudade/ E a leve impressão de que já vou tarde”. Modelos chegam e partem e assim vão construindo a metáfora. A silhueta tem um flerte discreto com os anos 1960. Na paleta, azuis tristes, beges pálidos e vermelhidão embarcam em rendas, transparências, saias de cetim e geometrismos.
desfile tanden
Há uma sofisticação vertiginosa estruturando a coleção da Tanden. A silhueta contemporânea tem ecos da francesa Céline, mas desenvolve linguagem própria quando exercita combinações interessantes de cores quentes em peças de construção minuciosa. A clutch de veludo mostarda acompanha o conjuntinho cinza, o cinto de couro verde transpassa o vestido off white, a calça de alfaitaria tangerina vai com blusa cropped e o maxi cinto de vinil acintura o vestido de malha. A coleção tem uma configuração bastante comercial, mas ganha pela modelagem elegante e a destreza cirúrgica de styling.
desfile DAVID LEE
O encerramento do Dragão Fashion Brasil 2018 começou ali mesmo antecedendo o desfile de David Lee. A sala parecia ter as dimensões distorcidas pelo fluxo incessante de pessoas que entravam, se apertavam e buscavam se acomodar nos minúsculos espaços remanescentes. A histeria coletiva foi pouco a pouco amenizada pelas primeiras batidas de “Eleonor Rigby”, dos Beatles, que acompanhava a subida da luz revelando o mar de gente que ladeava a passarela. Na superfície, a roupa de David Lee pode vestir qualquer corpo masculino. Mas é no interno, no forro, no avesso de tudo que se pode ver é que o extraordinário acontece. Toda a banalidade do esportivo é transformada pelo lirismo de Lee. A imaterialidade da roupa é posta em questão sugerindo mais do que pedaços de tecidos em corpos seminus. Há uma vulnerabilidade equivalente àquela que nos acomete quando acordamos, ou no momento de cobrir o corpo desnudo. Conjuntos que parecem pijamas, cueca samba canção, shorts e meias finas de cores complementares se juntam a moletons, jaquetas e cardigãs de cores fortes e estamparia radiográfica. As faixas soltas dos casacos e suéteres de crochê promovem a ideia de algo não finalizado, exatamente como esse homem que busca na subjetividade a fórmula da eterna transformação, da metamorfose.
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