Escapismo na moda masculina inverno 2019

Escapismo na moda masculina inverno 2019

18 de janeiro de 2019 Moda 0

 

Undercover, inverno 2019.

O mundo lá fora definitivamente não é para leitores de contos de fada. A atual situação política global é de roer as unhas e, por vezes, digna de se esconder debaixo da cama. A natureza agoniza e o senso ético escorre pelo ralo. Uma nuvem de incredulidade se agita e com tantas intempéries no caminho, as semanas de moda masculina de Londres, Milão e Paris trouxeram para a passarela, em contraste com o cenário turbulento, a figura de um escapista. Soa incoerente, mas na realidade, é sobrevivência.

Em 2018, um dos cenários futuros trabalhados pela Radar envolvia justamente a imagem de um personagem construído pelo e para o espetáculo. Filho do entretenimento, o perfil hedonista dele oscila entre a sorte e o azar, em jogos de ludicidade e prazer, buscando a autogratificação instantânea e a fuga. Com forte apelo ao extraordinário, ele utiliza a imaginação como forma de evasão, tem descrédito pela realidade e escapa à cronologia: história e fantasia se misturam sem pudores e sem períodos definidos.

A visão do singular, do exagerado e da brincadeira imoderada foi catapultada para o playground da moda logo nos primeiros meses do último ano, quando a Hermès anunciou que o tema deles seria o “Let’s play”, um convite a diversão. Encaminhando-se para o fim do ano, o Metropolitam Museum de Nova York, o MET, revelou que o tema da exposição anual e do baile de gala em 2019 seria o “Camp: Notes on fashion”, baseado no ensaio de Susan Sontag, que traz o termo como alusão a tudo que é exagerado, artificial e não-tradicional, que pode gerar efeito cômico ou espetacular.

Nessa temporada, o designer de sobrenome pop Charles Jeffrey Loverboy, mergulhou no universo do Peter Pan, o garoto que se recusa a crescer. Na Undercover, a literatura de aventura atualizou os três mosqueteiros. E na Daks, a opção foi por uma versão contemporânea de Robin Wood.

Na Prada, o universo é do sci-fi, que anda de mãos dadas com a criatura de Victor Frankenstein, em homenagem à autora Mary Shelley. Criaturas míticas atacaram a passarela da Xander Zhou e Walter Van Beirendonck. Fadas e figuras celtas foram reimaginadas na passarela da Facetasm.

O senso de espetáculo ficou por conta da Dolce & Gabbana que nivelou o barroco tradicional  com salpicos aristocráticos modernos de contos de fada. A  Moschino  trouxe uma leitura afetada das divas e dos filmes do diretor italiano Federico Fellini.

Let´s play que a realidade não está mesmo nada fácil de encarar.

 

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