Afinal de contas, o que é mais sustentável: uma bolsa de palha semi perecível fabricada por uma comunidade de artesãos na Indonésia, ou um modelo Hermès passado de geração a geração há mais cinco décadas? Não há respostas simples neste terreno. O que há é pressa indevida na adesão à idéia, abrindo espaço para a vigilância ideológica rasa: ou se é um fashionista verde ou um vilão planetário. O pior dos resultados dessa fragilidade conceitual, entretanto, pode ser a baixa qualidade estética dos produtos, facilmente substituída por uma carta de boas intenções. Isto quando se sabe que na moda o que vale são produtos desejáveis, que a maior parte das iniciativas com este selo na indústria de moda ainda é de projetos embrionários, e que não há o mínimo consenso sobre o que a nova etiqueta de fato significa.

Um texto interessante do começo deste ano assinado pela Vanessa Friedman contribui positivamente para a discussão Ela compareceu a uma conferência internacional em Genebra sobre Moda e Sustentabilidade, conversou com verdes experientes e neo verdes e coletou opiniões que dão conta de como as definições, iniciativas e objetivos são diferentes entre si quando o assunto é a green fashion.

Outro artigo interessante, este assinado por Suleman Anaya, lembra que a Stella McCartney é uma designer de roupas chics que é convincentemente verde, e não uma designer verde que é convincentemente chic.   A própria Stella, que é vegetariana e não usa nada de origem animal, diz que seu maior compromisso é oferecer a melhor roupa, a mais desejável, e que ser sustentável é um bônus extra.

Acreditar que os padrões atuais de consumo estejam à disposição de todos ou que o uso dos recursos naturais possa se manter aos níveis em que estão é insano. Abraçar algum tipo de idealismo fantasioso, que acredita em mudanças radicais e imediatas a partir da constatação de que as coisas não podem ficar como estão já é pura ficção. O que parece ser possível é alimentar expectativas, acompanhar as novas tecnologias, evitar os absurdos, ir mais fundo no tema e adotar o que for realista. Enquanto isso, melhor evitar as inconsistências do marketing sem lastro que costuma rondar o assunto. Nas imagens: bolsa balinesa + bolsa Hermés e cena do desfile Resort Stella McCartney.