Todo mundo já topou com alguma pintura do Giuseppe Arcimboldo pela frente, e certamente não passaram em branco os “retratos” inteiramente montados com flores, frutas, legumes, aves, frutos do mar e outras iguarias menos apetitosas. No Palazzo Reale, em Milão, desta vez topei não com um, mas com pencas deles, e ainda acrescidos de um sem fim de obras de outros autores, anteriores, da época ou posteriores, em execelente curadoria de contextualização histórica da obra deste artista original.

Documentando antecedentes que vão longe no tempo, para situar o imaginário surreal do artista,  a mostra expõe o filão aberto por Leonardo da Vinci, com as caricaturas (acima) e o interesse pelas ciências naturais, que desembocam em Arcimboldo um tempo depois. Arcimboldo também tem desenhos impressionantes no melhor estilo de catalogação de história natural. A veia naturalista e a ironia com figuras públicas e poderosos em geral, sujeitos a representações deformantes, eram largamente praticadas no século XVI. A ornamentação dos artefatos de guerra e de objetos domésticos, alguns expostos no Palazzo, também dão testemunho destas fontes de influência gravitando pelo repertório da época e consumadas na obra do Arcimboldo.

O artista nasceu e fez carreira em Milão, antes de se tornar a principal figura na corte de Praga. Na época um ambiente liberal e aberto ao que era empacotado como exotismos em geral, a ponto do Imperador manter uma Câmara de Arte chegada ao estudo e registro de anomalias físicas.

Arcimboldo não foi um desconhecido enquanto vivo, mas caiu no esquecimento por longo período, antes de ser resgatado junto com outros maneiristas históricos no início do século XX. O catálogo da exposição, vendido a 35 euros, é consistente, e existe uma série de publicações menos extensas, também disponíveis e a bom preço. Pena que só em italiano.

Sylvia Ferino-Pagden assina a curadoria da exposição que abriu em 10 de fevereiro e fica aberta até 22 de maio.

Acima, auto retrato de Arcimboldo.