Encerrando a Bienal do Mercosul
A Bienal do Mercosul tem vocação pedagógica e realiza com independência um valioso trabalho de formação de público e criação de infra estrutura na paisagem cultural fronteiriça do país. Já valeria por isso. Nesta edição, o texto/defesa do projeto, escrito pelo curador Jose Roca, é honesto e envolvente. A amarração entre as várias mostras, o cuidado em estender a Bienal no território e no tempo, com ações que antecederam e ultrapassaram o período e os locais de exibição, e as inúmeras realizações paralelas, se alinharam com propriedade para executar os Ensaios de Geopoética anunciados pelo título. Roca relativizou o aspecto expositivo e circunstancial para dar relevo a um acontecimento que se estendesse no tempo e “colasse” com a vida da comunidade onde ele acontece. Acima, desmontagem da obra de Oswaldo Maciá.
“Entender a Bienal como uma instância de criação de infra-estrutura” era uma das premissas que orientaram o projeto dele. Ele também anotou: “A intenção desta proposta é imbricar-se profundamente no tecido social e artístico de Porto Alegre e região para construir um projeto que gere um profundo sentimento de pertencimento”. Há chances enormes de que estes objetivos tenham sido alcançados, embora nem todos os trabalhos tivessem autonomia suficiente para transcendê-lo. Na imagem, desmontagem do trabalho de Tatzu Nishi.
Na arte, território no qual uma obra isolada pode detonar, reparar ou inventar um mundo, entre as selecionadas para esta Bienal eficiente, mas de poucos picos, muitas deixariam de respirar se desligadas do aparelho conceitual engendrado por Roca. Outras encontrariam mais oxigênio fora dele. Na imagem, desmonte da Geodésica no Cais do Porto.
Da americana Leslie Shows vimos uma fileira de bandeiras brancas encimando uma imensa tela para a qual as tintas e cores que desenhavam nacionalidades haviam escorrido. Era um dos casos onde a possibilidade de força era sugada pelo contexto, drenada pelo propósito de ilustrar uma idéia dominante na companhia reiterativa de obras aparentadas. Acima, Display of Properties, de Leslie Shows.
Para encerrar fico com outro trecho do texto dele: “Considerar como receptor principal o público local não especializado.” Talvez seja esta a chave para entender as fragilidades e forças dessa edição. Na foto, o curador Jose Roca.
As imagens são de Cristiano Sant´Anna, Camila Cunha e Eduardo Seidl. Cortesia da 8º Bienal do Mercosul.
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