Brasileiros devidamente documentados
Assisti a dois dos cinco filmes que integram um projeto do Itaucultural, o Iconoclássicos, exibidos gratuitamente nos cinemas de shoppings por obra e graça da divisão cultural do banco. Vimos, eu e mais dois expectadores solitários, o Ex Isto, que acompanha uma viagem imaginária de René Descartes pelo Brasil, brilhantemente realizado pelo Cao Guimarães a partir de um poema do Paulo Leminskyi. Acima, uma cena das filmagens.
Ontem, lá estávamos eu e mais cinco, um recorde, diante do Retrato de um Antropófago, documentário de Tadeu Jungle e Elaine César sobre o José Celso Martinez. O lendário e ainda vivo diretor do Teatro Oficina, militante do desbunde nacional desde os anos 60, é algo que não se explica, nem o filme tenta, mas apresenta bem. Zé Celso encarna Dionísios em pleno bairro do Bexiga, em São Paulo, e arrasta sua trupe de atores em delirantes e longos espetáculos catarse no prédio concebido pela Lina Bo Bardi. O diretor é uma dessas forças incontroláveis remando contra a normatização geral. O filme faz justiça e registra seu personagem sem meias palavras como ele é. A imagem acima é do filme.
Aos 74 anos e pelado, fumando um baseado, beijando na boca e desfiando um mesmo e coerente discurso desde sempre, Zé Celso não é uma figura fácil, tem um carisma enorme e seduz e incomoda na mesma falta de medida. É também uma figura chave para quem quer entender o Brasil da miscigenação, de Macunaíma, Glauber Rocha, da Ditadura, da Tropicália, Oiticica, do Carnaval e tudo o mais que caiba na voragem antrofágica cunhada pelo Oswald de Andrade. Na foto, cena do espetáculo O Banquete
Da lista dos Iconoclássicos ainda falta ver Assim é se Lhe Parece, sobre a obra do artista Nelson Leirner; Daquele Instante em Diante sobre o músico Itamar Assumpção e Mr Sganzerla, os Signos da Luz, sobre o cultuado diretor de O Bandido da Luz Vermelha (acima) e Copacabana Mon Amour.
Também recentemente, assisti Reidy, a Construção de uma Utopia. Fora do projeto do Itaú, mas não por esse motivo, este é um documentário à deriva. Pretendia apresentar a obra do arquiteto que projetou o MAM do Rio de Janeiro, mas é como uma nau sem rumo entre cacos de registros históricos mal costurados pelas boas intenções da diretora Ana Maria Magalhâes. Uma multidão de quatro pessoas se espalhava pela sala, Infelizmente. Ainda que o filme seja fraco, Reidy é um arquiteto de primeira linha e esta onda de filmes sobre realizadores brasileiros é um presente luxuoso, algo a ser visto e comemorado. Detalhe do cartaz do filme.
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