Bispo do Rosário no Santander Cultural
Arthur Bispo do Rosário é um dos artistas mais intrigantes do final do século passado, e isso vale em contexto mundial. Passou a maior parte da vida em um manicômio no Rio de Janeiro. Desfiava a roupa de cama e o uniforme da instituição para transformar o fio obtido em obras destinadas, segundo ele, a ordenar o mundo. Bispo bordava o nome de todas as coisas em um manto sagrado, o Manto da Apresentação, à espera do encontro com Deus. Se não encontrou o Criador, *deu um xeque mate na história da arte contemporânea educada ao descer ao último círculo do inferno social, um hospício, e ali realizar o que realizou .
A costura e o bordado dão forma a quase tudo que ele fez. Impossível esquecer que Bispo não teve nenhum treinamento em arte e provávelmente pouco ou nenhum contato com ela.
Supostamente ele nasceu em 1911. Em 1938 foi internado no Hospício Nacional dos Alienados, na Praia Vermelha diagnosticado com esquizofrenia paranoide. Em 39 foi transferido para o Núcleo Ulisses Viana, na Colônia Juliano Moreira. No período de 1940 a 1960, driblou a burocracia do hospício saindo e voltando inúmeras vezes.
Empregado em uma clínica pediátrica em Botafogo, realizou boa parte da sua obra em um quarto isolado do sótão. Em 64 voltou definitivamente para a Colônia Juliano Moreira, onde ficou até a sua morte, em 1989. Durante todo esse período ele utilizou a instituição como ateliê, criando quase mil obras que hoje integram o acervo do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea.
A Poesia do Fio é o nome da mostra que chega ao Santander Cultural de Porto Alegre com mais de duzentas obras e imagens da vida desse criador extraordinário e inexplicável, só fica até abril e náo é do tipo de oportunidade que se deixa passar. Para quem fica tentado a tratar o legado dele como obra de louco, fica a pergunta; Quem ou o que é normal?
“uma arte, arrebatadora, de beleza convulsiva, capaz de ampliar nossa estreita noção da realidade, capaz de colocar em jogo nossa relação com o mundo”
Marta Dantas no texto de introdução de seu livro Arthur Bispo do Rosário: a Poética do Delírio, lançado pela Editora Unesp.
*Usei esse mesmo trecho em post anterior sobre o Leonílson.
Imagens: Manto de Arthur Bispo do Rosário.
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