Raf Simons é um um homem do seu tempo, até agora nunca demonstrou ter nostalgias aristocráticas, nem se deixou levar pela dimensão operística do desfile espetáculo, e todo mundo sabe que ele gosta tanto das idéias quanto das formas . No caso delas, nessa primeira coleção que o belga aprontou para a Dior, subsituindo ninguém menos que o John Galliano, elas não poderiam ser mais Dior. Os ombros de fora, as saias infladas e deslumbrantes, encimadas por partes superiores modeladas ao corpo, os pepluns trabalhados, as flores ricamente bordadas, tudo isso é herança do mestre. As cores, a maneira espartana de lidar com o luxo, quase um paradoxo à primeira vista e um deleite na hora de avaliar a qualidade e o conjunto, as calças justas e retas usadas com casacos acinturados, tudo isso já é radicalmente Raf Simons.

Quem esperava algo diferente dessa filtragem de todo excesso, da aposta na excelência do corte, da costura e dos materiais e na concepção rigorosa da apresentação, não se preparou para o que viu e saiu decepcionado. Quem conhece o Dior original e acompanha a carreira singular do Raf Simons se emocionou, sem exageros, é claro, mas profundamente.