Roupas são mesmo objetos incríveis. Nossa vida com elas não se resume ao look do dia, à ganância dos negócios, à vaidade desmedida e muito menos ao trabalho escravo em um canto infeliz do planeta. Há implicações no ato de usá-las ou fazê-las que estas distorções empurram para o absurdo das coisas consideradas comuns. Para contribuir com a tarefa de recompor a qualidade da experiência com as roupas, um ano depois de realizar a performance Impossible Wardrobe, Olivier Saillard, que é diretor do Museu Galliéra de Paris volta a trabalhar com Tilda Swinton em outra performance sobre os processos da moda.

Sob o título de Eternity Dress, Saillard e Tilda dissecam a construção de um vestido.

O ato de construir uma roupa, com todas as etapas e partes expostas ao público, é registrado ordenadamente, sujeito à ação de quem vai usar (Tilda enuncia as peças, descarta ou acata possibilidades) e a ação confere dimensão ritualística a processos que a moda industrial tornou banais.

Em entrevista à Dazed Confuzed Digital, quando perguntado se estamos perdendo algo com a velocidade da moda no século 21, veja o que Saillard respondeu.

De certa forma, estamos esquecendo o que é realmente essencial para a moda – costura, por exemplo. Durante a performance, testemunhei Tilda costurando o vestido em completo silêncio, e me tornei consciente da beleza desse gesto arcaico que tendemos a esquecer. Fazer um vestido com cuidado, com as próprias mãos, é um ato incrivelmente terno. Devemos sempre nos lembrar disso.

Certíssimo.

Imagens: dazeddigital.com