Para uma área que ocupa um papel central na cultura contemporânea e na qual as ações requerem a tomada rápida de um número elevado de decisões, a moda é espantosamente falha em cultivar um aparato crítico em torno dela, preferindo optar pelo texto afirmativo, de caráter publicitário ou descritivo, que amadurecer submetida à opinião externa. As razões que levam a moda a evitar a crítica como se estivesse diante de uma arma é um assunto, mas não é um mistério

Se os candidatos a exercer a crítica temem represálias (há casos notórios em que aquele que se arriscou a criticar uma coleção perdeu o assento no próximo desfile da marca) marcas, por sua vez, receiam que uma opinião negativa possa abalar o prestígio e  prejudicar as vendas. O círculo de proteção se fecha e neste ponto a moda retrocede nas suas pretensões como atividade criativa, endurece o jogo e inviabiliza uma prática comum nas artes visuais, na literatura ou no cinema, empacando na condição de atividade estritamente comercial, da qual reiteradamente tenta se afastar. Pelo menos quando lhe convém ampliar o valor cultural da marca, estratégia que sabidamente tem contrapartida no valor econômico, mas que a deixa mais exposta.

Para que este texto seja honesto, é preciso dizer que há casos em que uma crítica pode sim causar estragos, mas, esta possibilidade, a de que algo venha a ser afetado por opiniões, existe sempre e é parte inseparável da condição de toda coisa pública. Sejam quais forem os riscos, objetivamente é mais produtivo ouvir o que outros tem a dizer que fechar as portas ao diálogo. Opto pela afirmação de que o número de pessoas que deixaria de comprar um item de moda em função de uma crítica ruim seria menor do que aquele que compraria a moda como idéia , ingressando no círculo de consumo dela a partir do estabelecimento de uma interação esclarecida com suas práticas e propostas.

Imagem: O crítico de arte, Raoul Hausman, 1920.