A roupa da porta bandeira
De longe, o desfile da escola de samba parece coeso como uma coisa só. De perto é feito de muitas partes, aproximadamente uma cinco mil delas, se contada em gentes. O imenso corpo colorido são milhares de corpos, na verdade. Para fazerem-se ver melhor, como o carnavalesco quis e o povo espera, ampliam-se em alegria desmedida e roupas famintas por espaço, disputando um lugar ao sol na câmara da televisão.Mas quem é que costura essas maravilhas todas? Entendo pouco ou nada de carnaval, sei apenas o que a condição de brasileiro exige saber. Assaltado por essas perguntas, indolente como a maioria que não pretende ser especialista, recorro à internet e deparo-me com algo curioso. Ao digitar termos como fantasia, carnaval e costura, a telinha enche-se de anúncios de serviços de atelier que executam os cobiçados disfarces de colombina, baiana, pirata, Lady Gaga e pierrô. A maioria ocorre em São Paulo. Inclinado a romantizar o fato, entendo que, no Rio o carnaval “acontece”, é coisa da “comunidade”, ainda atrelado ao passado do “fazemos por amor”. Em uma medida bem menos entusiástica, talvez não esteja tão errado assim. Mas este não é o ponto. O ponto é o da costura. Volto a perguntar: quem une estes pedaços de sonhos feitos de espuma, celofane, swarovski e papel? Quem é que costura a roupa da porta bandeira, este redemoinho de beleza em êxtase fugaz na avenida artificial?
Imagem divulgação
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