A SAÍDA À FRANCESA DE AZZEDINE ALAÏA

A SAÍDA À FRANCESA DE AZZEDINE ALAÏA

22 de novembro de 2017 Moda 0

Azzedine Alaïa e Elle McPherson, 1986. (Foto: Gilles Bensimon)

Era tunisiano. Um metro e meio, talvez. De fala calma, pausada. Semblante inibido e postura recatada. Tinha um número assertivo de poses para fotografias. Jamais era visto sem a característica túnica preta. Contam que ele fazia o melhor cuscuz de toda Paris.

Alaïa era estilista. Mas poderia muito bem ser escultor. Chegou à França em 1957 e duas décadas depois, ao lado de Claude Montana e Thierry Mugler, formou a Santíssima Trindade que esculpiu a face dress power dos Anos 80.

A moda que o tornou famoso não era sobre costura ou tecidos, era sobre o corpo, o grande protagonista da história que envolve seu nome. Deu às mulheres o tal “just-au-corps”, peças que ficaram conhecidas como segunda pele. Também deu a elas a ciência da própria sensualidade, o descobrimento de cada centímetro de corpo salientado em tecidos que quase se  tornavam invisíveis com os movimentos. Alaia falava mais sobre a mulher que sobre a peça que ela vestia.

Ele também era equilibrista. Conduzia o tempo em uma bandeja e fazia o que bem entendesse com ele. Acabou fazendo do tempo seu aliado, sua obsessão, e construiu seu império controlando cada grão de areia que caía na ampulheta. Uma peça só era uma peça quando ele dizia fim — e isso podia levar meses ou anos. Seu perfeccionismo o tirou dos calendários tradicionais. Para provar que estava acima disso, ele se dizia acrônico. Ninguém sabia sua idade. Quando morreu, na semana passada, jornais de todo o mundo vincularam duas, três, até quatro idades diferentes.

Ele, certamente,  devia estar se divertindo com tudo isso. Costumava dizer que era da idade dos faraós. E bem se viu: de certa forma passou a vida inteira embalando mulheres em belas faixas de tecido. Nesse mundo da moda, veloz como rastro de pólvora, o tempo de Alaïa foi, sem dúvidas, muito bem gasto.

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