Amílcar de Castro e os gestos sem volta
Com um conjunto de poucas operações e um único material, Amilcar de Castro moldava o espaço em torno com a mesma eloqüência que domava o ferro. As ações de corte e dobra, na escultura que eles nos deixou, encerram gestos sem volta. Nela, são princípios, sob nenhuma hipótese negociáveis, a economia de formas, a renúncia a qualquer tipo de adorno e o respeito à natureza dos materiais.
Fui aluno dele. Na sala de aula, o professor insistia no uso de lápis duro, dispensava borrachas e devolvia a cada um a responsabilidade do gesto pela impossibilidade de apagar um traço feito. Em paralelo à didática singular, a convivência cotidiana com a escultura dele ensinava sobre conjunção entre projeto e objeto final, que, no caso, parecia abolir o tempo e o processo entre uma coisa e outra. Uma ilusão ratificada pela aparente facilidade com que seu pensamento-gesto rompia uma chapa de aço de 5 cm de espessura e peso medido em toneladas. Ilusão frontalmente contradita pela evidente impossibilidade do fato.
Parece óbvio que a escultura dele não está limitada à materialidade do objeto. Que o vazio circundante faz parte dela. A exposição dedicada a ele, no CCBB de Belo Horizonte, apesar de ignorar isto em alguns momentos é uma grata reunião da obra do artista.
As salas múltiplas, pequenas, e o teto baixo não ajudam, mas é escolha da curadoria contradizer a natureza tridimensional da escultura, chapando várias delas contra a parede, por exemplo.Ou acumular peças grandes em ambientes pequenos. Ou ainda arranjar uma escultura diante de uma pintura estabelecendo relações desnecessárias. Ainda assim, é uma mostra poderosa e não vale a pena insistir nos equívocos que trabalham contra esta obra, tão cheia de autoridade que sobrevive a eles. O melhor a fazer agendar sua visita, Vai valer cada minuto gasto.
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil
Endereço: Praça da Liberdade S/N, Lourdes, Belo Horizonte
Data: até 27/1
Horário: quarta a segunda, das 9h às 21h
Entrada gratuita
Informações: (31) 3431-9436
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