ANTONIO LOPEZ E A EFERVESCÊNCIA DOS ANOS 70
O ilustrador de moda Antonio Lopez sabia muito bem como desenhar uma multidão de ícones. De modelos a estilistas influentes, de estrelas do cinema a celebridades da música, ele registrou em cores vibrantes, e majestosas doses de power dressing, toda a efervescência dos anos 70. Lopez foi, muito provavelmente, o homem com a mais invejável rede de contatos em toda a Nova York dos anos 70. A carreira dele pode ser conferida no documentário Antonio Lopez 1970: Sex, Fashion & Disco do cineasta James Crump.
Nascido em Porto Rico, mas criado no Bronx, Antonio Lopez tornou-se um agente de mudança extremamente relevante na cena de Manhattan no final dos anos 60, defendendo a diversidade étnica e a beleza individual acima de todas as conveções que dominavam as passarelas daquela época.
Contou com Grace Jones, Pat Cleveland e Jessica Lange como musas e misturou-se a gigantes como Andy Warhol, Donna Jordan e Patti D’Arbanville. Além de se ligar intimamente com grandes profissionais do circuito, fazendo amigos inseparáveis como o fotógrafo Bill Cunningham e recebendo apoio de pessoas influentes, como a maquiadora e artista Corey Tippin e a editora Grace Coddington, da Vogue.
No meio de tantas figuras importantes, Antonio também buscava inspiração para vida artística e pessoal em seu parceiro, Juan Ramos, que fez muitas das icônicas imagens de bastidores que documentam esse caldeirão fervilhante de moda e arte de Nova York na época, um momento quase mítico na evolução da cidade.
Quando o cineasta James Crump — fã de Lopez desde que lera sobre a vida fascinante do ilustrador na revista Interview nos anos 70 — teve acesso a fotografias, desenhos, filmes e vídeos, logo percebeu que possuía mais do que um filme sobre ele em mãos.
Em Antonio Lopez 1970: Sex, Fashion & Disco, que tem estréia mundial no próximo mês no Instituto de Arte Contemporânea como parte do London Film Festival, o diretor invade os arquivos do universo do ilustrador na Nova York de 1969 a 1973 para fazer o retrato de uma obra e também de uma cultura.
A moda e a cena artística foram intensas para Lopez e seu mundo de excessos. Bissexual, ele manteve relacionamento com sua descoberta, a então adolescente Jerry Hall, . Em 1969, foi a Paris com seu parceiro Ramos para esboçar a última coleção da Chloé, criada por um jovem Karl Lagerfeld. O estilista convidou o casal para ficar em seu apartamento na Rive Gauche. No filme de Crump, o cineasta explora o relacionamento íntimo entre eles e a intensa troca de parceiros, naquele período em que muitos exploravam o potencial da liberação sexual.
A euforia da liberdade cedeu à epidemia de AIDS. Juan Ramos morreu de complicações relacionadas à doença em 1987, com 44 anos de idade.
O momento de liberação dos costumes no ambiente da moda chegava a um tempo complexo e dramático. Entretanto, o legado de López permaneceu intacto; sua influência ainda ressoa nas passarelas, com homenagens em marcas como Louis Vuitton e Kenzo. O documentário de Crump confirma a visão do ilustrador sobre liberdade e individualidade, tão poderosa hoje quanto foi na incandescente década dos 70. Confirma também a sobrevivência de uma forma de registrar a moda, a ilustração, tão relevante hoje, em tempos digitais, quanto no passado.
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