Atualmente, cada um é que sabe a finalidade da roupa que usa e quais foram as motivações que determinaram a escolha de uma ou de outra.Para Luis XIV, que era o rei da França, roupa era para reafirmar a condição divina e não deixar a menor dúvida disso.

Com um palácio de 700 quartos como cenário, e exposto à curiosidade do público, a vida do Rei Sol, da hora de acordar, comer, vestir, até o parto da rainha, transcorria como um espetáculo, em que a realeza se deixava ver pela população e pelos nobres de maior e menor grandeza em toda magnificência do conjunto e baixeza dos detalhes. Estamos em pleno século XVII, uma época lenta na transmissão de imagens, e para atender àqueles que não podiam comparecer ao reality show real, restava recorrer à pintura, centenas delas, brotando dos cavaletes dos artistas reais para informar ao mundo o poder do Rei. Todo cuidado era pouco com A Imagem do Soberano, Mas o tempo passa, e caem as modas assim como caem os reis. O “vestir-se” foi submetido a uma lipoaspiração radical, coordenada pela democracia, pela vida nas cidades, pelas guerras e pelo calor tropical. Em contrapartida a tantos excessos, ganhamos o pretinho básico, o uniforme, o terno masculino, o minimalismo na moda e o biquini

Essa Imagem do Soberano de peruca, quase um bombom de calçolas, meias longas, e delicados sapatinhos de laço, envolto no opulento manto real, resiste tropegamente ao caldo crítico da contemporaneidade. Entre as muitas coisas inevitáveis que o passado da moda nos impõe, ele também ensina a considerar todas as estranhas possibilidades da forma. Divirta-se e aprenda com a Imagem do Soberano, então, porque ao contrário do artifício da parábola, rei nenhum e em época nenhuma esteve nu, e sempre muitíssimo bem vestido. Pelo menos aos nossos olhos plebeus. O que, convenhamos, no caso do Rei Sol, é um alívio.

Umaoutra versão desse texto foi publicada em 2007 no Usefashion Journal