Crowdsourcing

Crowdsourcing

23 de fevereiro de 2011 Opinião 0

No terreno dos negócios, há não muito tempo atrás, os novos processos abertos de criação viabilizados através da internet acenavam com tantas vantagens que atropelavam qualquer possibilidade de questionamento a respeito de sua eficácia ou clareza de propósitos. O tempo passou, a euforia se acalmou e as opiniões críticas surgiram. As mais duras viam essa forma de gerir os processos criativos como uma manobra para  arregimentar mão de obra desavisada e barata seduzida a trabalhar a troco de nada. Ou ainda como estratégia para minar salários de profissionais caros e criativos dentro das empresas. À margem dessa fuzilaria, mesmo identificando estas e outras distorções, houve também quem contabilizasse o saldo positivo real, para ficar apenas com o que realmente interessava.

Jeff Howe, um dos primeiros a empregar o termo crowdsourcing,  modelo de produção que utiliza inteligência e conhecimentos coletivos e voluntários espalhados pela internet para resolver problemas, criar conteúdos ou desenvolver novas tecnologias, de acordo com a sabedoria coletiva da wikipédia, é um conceito que se apóia na idéia de que um chamado aberto para a solução de um problema atrairia a atenção dos mais capacitados a fazê-lo, e eles então contribuiriam com idéias frescas e relevantes. Às vezes dá certo, à vezes não. Como toda ação de risco, entretanto, em que quando existem ganhos positivos eles são grandes, o crowdsourcing e outras fontes de participação aberta atraem sempre mais adeptos,  Nos últimos anos, entraram para a cultura de gestão de forma irreversível, incorporadas em diferentes níveis em negócios de todo tipo e tamanho.

O que mudou é que esta realidade não exclui mais o bom senso. Do ponto de vista empresarial, ninguém em sã consciência acredita que substituir um profissional competente em determinado assunto, por cem pessoas despreparadas, seja uma boa garantia de sucesso.

Também se sabe hoje que levar a bom termo estes processos não é coisa simples, e as open sources não são tão baratas para as empresas como se pensava. Elas não excluem a necessidade de inteligência interna, que selecione, ordene e direcione a massa dispersa de opiniões, para citar apenas um ponto.

Indivíduos criativos e preparados, bem como os milhões de anônimos dispostos a colaborar gratuitamente, via web, são duas fontes que a inteligência de negócios pode contar. Não são forças antagônicas, uma não elimina a outra e, como sempre, a realidade é bem mais complexa do que a conveniência gostaria que fosse.

A idéia de criação coletiva tomou corpo nas artes visuais há cerca de 50 anos, com a noção de obra aberta e a inclusão do expectador no processo de criação. Ganhou o teatro e outras artes nos anos 60 e 70 e meio século depois aterrissou no mundo dos negócios e do desenvolvimento de produtos. Uma olhada para ver como a coisa se desdobrou nas artes, onde a autoria não morreu e existem incontáveis projetos coletivos bem sucedidos, seria algo estratégico. Para dizer o mínimo.

Na imagem, pintura de George Tooker, Cubicle, de 1965.

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