Tom Ford – 2010
Nosso tempo tem sido marcado pela conectividade total, pelas notícias, pelas novidades instantâneas e por uma nova definição do que é privado e do que é público. Por consequência, a ideia do que é ser exclusivo é constantemente redefinida.
As novas tecnologias foram e estão sendo usadas à exaustão. Aplicativos que compartilham onde a pessoa anda, o que vê, o que veste, o que ouve, o que come, e apontam o que é exclusivo, tornaram-se uma fonte de novidades que desperta enorme interesse.Vamos aos poucos descobrindo que nem sempre por onde andamos, o que vemos e mesmo o que vestimos e comemos é assim tão interessante para os outros. O hábito de compartilhar a vida privada, sejamos realistas, desenha um caminho sem volta. Seja porque a prática já é parte da vida contemporânea, seja porque somos também “rastreados” por mecanismos interessados nos nossos hábitos privados. Nunca se soube tanto sobre o consumidor.
Como tudo que é interessante e se usa à exaustão, chega-se a um ponto de virada em que o interessante é, de fato, o oposto à nova prática. No caso do uso desenfreado das tecnologias de comunicação, pode-se dar três exemplos que mostram um movimento contrário. E vale observar como esta reação pode se tornar um novo luxo.
A Selfridges em Londres criou a Silent Room. Nela, as pessoas podem entrar apenas depois de retirar sapatos e aparelhos eletrônicos. É uma experiência de digital-detox. Segundo Annette Cremin, spokeswoman da loja, “é uma chance para abaixar o volume de Londres… É um experimento para ver como as pessoas reagem quando são forçadas a ficar em silencio, sem nenhum eletrônico por perto”.
Esta experiência de desconexão traz, imediatamente, um benefício tão raro nos dias atuais, que é se fazer apenas uma coisa por vez (monotasking).
Em Nova York, o restaurante Momofuku Ko proibiu que os pratos sejam fotografados. A experiência é exclusiva de quem frequenta o restaurante e também, por que não, torna o próprio restaurante um local exclusivo.
Muitas vezes, esta experiência de desconexão não é apenas um “novo luxo”. É uma troca. Apenas quem pode “se dar o luxo” de se desconectar é, também, quem proporciona este luxo. É o caso de Tom Ford, que vetou o uso de câmeras fotográficas em seu desfile prêt-a-porter em 2010.
Assim como ninguém abandonou o microcomputador para voltar a usar a máquina de escrever, dificilmente as experiências de desconexão farão algum efeito significativo em relação ao uso da tecnologia. Serão, no entanto, excelentes mecanismos para diferenciar os produtos e os consumidores dentro da imensa multidão conectada pelo aparato tecnológico.
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