Zuzu Angel

2014 é um ano particular, especialmente o dia 31 de março, data que marca os 50 anos da instauração da ditadura no país. O golpe de 1964 foi um movimento militar centrado na ideia da existência de um inimigo interno – a ameaça comunista – e da necessidade de combate desse inimigo, seguindo-se as diretrizes da política de Segurança Nacional. Na nova capital, idealizada por um comunista e construída por um democrata, quem passava a dar as cartas eram os militares. A maior interferência do Regime Militar na cultura veio, inicialmente, através da censura, da restrição à liberdade de expressão. As grandes passeatas de 1968 tinham como uma das grandes reivindicações a reconquista dessa liberdade. Dentro desse contexto, os artistas brasileiros tiveram que buscar outras formas de se manifestar. Alguns deles, como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram sumariamente expulsos do país. Assim como a censura, a repressão política teve impactos gigantescos sobre a cultura. Estávamos na década de 60, em que boa parte da produção cultural era “engajada”, ou seja, muitos artistas, músicos e escritores tinham militância ativa na esquerda, agora considerada subversiva. As opções não eram animadoras: ou o exílio ou o silêncio (voluntário ou involuntário). Peças, livros, filmes e músicas eram censuradas pelo suposto conteúdo subversivo. Um dos casos mais conhecidos foi a morte do jornalista Vladimir Herzog por agentes da polícia do governo da época. Outra interferência do regime militar deu-se na educação. Para se ter um exemplo, Paulo Freire, um das personalidades da história da educação no século XX foi preso e expulso do Brasil. A reforma no ensino retirou disciplinas antes obrigatórias, como Filosofia e Latim, interferindo na maneira de pensar de várias gerações seguintes. Ao mesmo tempo em que a mão do regime era dura contra a arte engajada, era, por outro lado, muito generosa com aquilo que não representasse ameaça ao sistema político. Talvez o maior exemplo disso seja a EMBRAFILME, que financiou uma enormidade de filmes sem grande expressão, avaliados como inofensivos pelos censores de plantão. Já há ao menos duas mostras sobre o assunto. O Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, dedicará boa parte de sua programação de 2014 para falar sobre o clima militar de 1964. O Centro Cultural Banco do Brasil e o Centro Cultural dos Correios recebem a exposição Resistir é Preciso, que resgata o período. No terreno da moda a ditadura também fez estragos. O mais conhecido deles aconteceu com a estilista Zuzu Angel. O filho dela foi acusado de subversão, preso, torturado, morto e dado como desaparecido, desencadeando um período em que Zuzu transformou a passarela em plataforma de protesto contra a repressão política. Zuzu Angel morreu em 1976 em um acidente de carro. As condições deste acidente nunca foram esclarecidas.. A ditadura militar ainda resistiu até 1985. Muitos dos atrasos do Brasil de hoje tem raízes naquele período.