Dragão Fashion Brasil – dia 2
Não havia como evitar o mix de desfiles, palestras e mesa redondas que recheiam este texto sobre o segundo dia do Dragão. Logo de manhã, um carro nos buscou no hotel. No trânsito paralisado, arrastamo-nos por uma hora até chegar ao Senac Iracema. Estávamos quase 30 minutos atrasados, mas toda a cidade foi vitimada pelo mesmo problema e não houve grandes reclamações até o momento que nossa convidada, Liiisa Jokinen, começou a palestra sobre moda finlandesa. ” Finish people are so modest” foi o que ela havia nos dito no dia anterior. Prova disso ela deu falando 40 minutos sobre criadores do seu país e reservando apenas umas últimas imagens para apresentar o seu Hel-looks, o “modesto” “discreto” mas influente website de street style. “Meu interesse não é por moda, mas por estilo” disse a conterrânea da Marimekko.
Na sequência, tive o privilégio de dividir uma mesa com Cláudio Santana, tarimbado diretor de desfiles, Luana Cloper, do Premiere Vision São Paulo e Marcia Travessoni, editora do site que contabiliza um dos maiores índices de acessos no estado. O assunto era moda contemporânea brasileira. Para onde ela vai, o que a fortalece e a enfraquece. Valeu cada minuto e tenho a pretensão de achar que o público que compareceu gostou do formato e do conteúdo. O dia seguiu agitado. A mesa de almoço abrigou 9 pessoas. No centro dela, borbulhante e de um amarelo intenso, a muqueca era quase uma entidade. As jarras de suco de siriguela, graviola, cajá e sapoti fizeram a delicia de todos, particularmente de Liisa.
Momento especial do dia: um encontro curto com o Mestre Espedito Seleiro. Fica aqui registrada a enorme admiração pela dignidade e grandeza inexplicável da cultura popular. Ele carrega-as como um manto, todo mundo vê e ele nem se dá conta disso. “Tenho que ir ao centro comprar umas coisas que estão me faltando” confidenciou o artesão.
A tarde foi dedicada a palestras sobre mercado, fast fashion, o negócio de moda no século XXI, economia criativa, moda e artesanato. Entre outros falaram Jorge Faccioni, do Usefashion, Enrico Cietta, Paula Limena e Raquel Gondim.
Vamos dar um salto até o desfile do Marc Greiner. O cara é talentoso, de fato. Sabe como criar imagens fortes, no mínimo. Vale citar esta qualidade de encenador. É curioso ver como ele rege as mistura de elementos regionais e cultura contemporânea na coleção batizada de Kariri Rocks. Um milhão de mensagens é o que ele emite e mesmo aquelas que sobram ainda parecem pertencer. Seria pouco não fosse a qualidade que ele imprime à execução. Nem é preciso pegar na roupa para ver. Costuras e avessos aparentes, babados e superfícies inteiramente construídas, misturados com as alegorias, deixaram o público de pé para aplaudir a boa performance.
Lindebergue Fernandes fechou a nossa noite de desfiles, com uma coleção que ele realizou com alunos do Senac. A apresentação teve aquele sabor de filme que é feito com atores não profissionais. Ele sabe disso, foi o que entendi, e embarquei na dança hi low de qualidades e aspectos de materiais, ao som de tango e bolero no desfile coroado pela drag queen envolta em tule verde. Os jeans manchados são o ponto alto da coleção.
Para finalizar o dia, duas caipirinhas de kiwis, altas como torres, sorvidas em um boteco a beira mar. Liisa e eu engatamos conversa sobre identidade cultural, a ambição de Putin e o Kalevala, mito finlandês da criação, o pequeno pais gelado de onde ela vem. Liisa é adorável. Contou-nos que no inverno abre buracos no gelo para mergulhar. O mundo é mesmo um lugar incrível, é o que posso concluir, caminhando já bêbado pelo calçadão quente da praia de Iracema, bem diante dos edifícios altos e reluzentes que desmontam meu imaginário de nordeste crivado pela seca e fustigado pelo sertão.
Foto: Ramon Steffen
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