Elles: mostra no CCBB do Rio é peso pesado do circuito de arte
Concebida pelo Pompidou de Paris, em 2009, a mostra Elles chega ao Brasil para contar a história da arte moderna e contemporânea apenas com trabalhos realizados por mulheres artistas.
Vale questionar porque é que a esta altura da conquista dos direitos sociais pelas mulheres seria pertinente essa divisão da arte por gêneros. Mas a resposta é que vale sim. É uma forma de dar relevo a artistas deixadas de lado pela dominância fálica dos registros históricos e de trazer à tona as investidas viscerais de artistas mulheres na luta por espaço. A conclusão é que enquanto formos lamentavelmente ignorantes a respeito do assunto esta distinção, como forma de esclarecimento, vai fazer todo sentido. O melhor a fazer é embarcar nesta história recontada por artistas menos conhecidas que seus pares masculinos. Também é aconselhável deixar a expectativa por clichês em casa. Seja para não perder as particularidades de obras que ajudam a redimensionar determinados movimentos, seja para absorver o impacto de trabalhos radicais. E alguns deles, acredite, são bordoadas impiedosas sobre a noção tradicional do que seria a expressão feminina. Logo na entrada o visitante dá de cara com um vídeo da Marina Abramovic de 1970. Em Art Must Be Beautiful, Artist Must Be Beautiful. Durante a performance passiva/agressiva, Marina, nua da cintura para cima penteia obsessivamente o cabelo enquanto repete que “a arte tem de ser bonita, a artista tem de ser bonita”. É um trabalho forte, assusta os desavisados, mas é só o começo.
Na sequência, a curadoria vai adotar a linearidade histórica como fio condutor, interrompida vez ou outra por temáticas que atravessam períodos, e vai alinhavar a mostra em seções com títulos como Tornar-se uma Artista (que tem obras de Sonia Delaunay) e Abstração Colorida/Abstração Excêntrica. A seção Feminismo e a Crítica do Poder divide-se em subseções provocativas como Pânico Genital (!!!), Espaço doméstico e Reflexão e Enfrentando a História. Quando o visitante já acha que foi surpreendido o suficiente ainda restam as seções O Corpo, esta com um impactante trabalho da fotógrafa Nan Goldim e Musas contra o Museu. A quinta e última seção, Narrativas, tem obras excelentes de Sophie Calle, Annette Messager e das brasileiras Rosângela Rennó e Rivane Neuenschwander.
Cécile Debray, curadora do Pompidou, e Marisa Sanchez, do Seattle Art Museum, que também recebeu a mostra, dizem que a melhor coisa de uma exposição como esta é mostrar como o museu pode ser o ambiente para descobrir e aprender sobre artistas que exerceram influência vital sobre nossa forma de pensar e pouco sabíamos de forma direta sobre sua existência. A exposição é também uma oportunidade de ver como as mulheres se moveram (e se movem) com talento e coragem desafiadora no território da arte, um campo ocupado por homens, mas deixado à margem pelo stablishment. Elas não perdem a chance. E é certo que não pegam leve.
De 23 de maio até 14 de julho no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio.
Imagens: Barbara Kruger, Marina Abramovic, Nan Goldim, cartaz da mostra
Compartilhe a sua opinião!
Seu e-mail não ficara público. Campos requeridos estão marcados com *