FUNDAÇÃO IBERÊ CAMARGO: ATOS DE RESISTÊNCIA
Fim de semana, tarde ensolarada. Há quem prefira se enfiar nos corredores do shopping e há quem opte por tomar lugar no auditório da Fundação Iberê Camargo para ouvir sobre O novo individualismo, conferência de um seminário que propõe explorar A Forma das Coisas Por Vir.
É à necessidade de diversidade de toda sociedade democrática que a programação da Fundação atende. Apesar do sol luminoso da tarde de sábado, nuvens sombrias ainda pairam sobre ela. Desde o início do ano faltam verbas, pessoal e sabe-se lá mais o que. Mas o prédio de concreto branco assinado pelo português Álvaro Siza – uma epifania arquitetônica, majestosa e desconcertante, instalada às margens do Guaíba há nove anos, em Porto Alegre – é testemunha de uma espécie de renascimento.
O novo curador e diretor criativo Bernardo de Souza comanda a ressurreição. É o posicionamento que ele conduz que desarma a armadilha montada para a Fundação.
A cidade é extraordinariamente bonita na perspectiva que Siza a enquadrou, as pessoas circulam ao redor do edifício e se espalham pelas mesas do café para ver o fim da tarde. No átrio principal, nos corredores e andares superiores há muita gente. Todos parecem reconhecer e retribuir o gesto comparecendo em peso à mostra Depois do Fim. Postam-se diante das obras, comentam, observam, fotografam ou protagonizam as inevitáveis selfies.
Como um ato de resistência, e como acontece com toda a programação em curso, esta é uma curadoria de posicionamento. Desde o titulo até a possibilidade de aporte de obras ao longo do período de exibição, Bernardo de Souza estabelece conexões entre a realidade da Fundação, o acervo de diversas instituições e entre obras de tempos e extratos variados. Coloca em potencial diálogo artistas como o veterano Xico Stockinger, a mineira Cinthia Marcelle, recém premiada na Bienal de Veneza, e deixa ambos em convivência com um sofá do célebre Bar Ocidente, ícone da cultura alternativa na noite da cidade gaúcha desde os anos 70. Para a mostra polifônica, o curador aborda o espaço físico e metafórico da Fundação como uma nave. Dentro dela viajam especulações filosóficas e indagações sobre o futuro da cultura, da cultura na cidade e no país. A população é a convidada de honra nesta exploração afetivo-arqueológica. Limitados a visitar a instituição apenas no fim de semana, em função de cortes no orçamento, os visitantes embarcam. E dá uma puta satisfação testemunhar o que está acontecendo ali!
Compartilhe a sua opinião!
Seu e-mail não ficara público. Campos requeridos estão marcados com *