Dois trabalhos do artista José Bento, do total de três, em mostra recente que ocupou a Galeria Celma Albuquerque em Belo Horizonte, dialogam entre si com forças de atração tão intensas quanto a dos imãs que mantém em suspensão partes do primeiro deles, que se chama Up. Trata-se de uma escultura de vários módulos, dois balanços de parque infantil na verdade, dos quais se projetam assentos imobilizados no ar em angulação perfeita e centímetros garantidos exatos entre um e outro pelo magnetismo dos imãs potentes.

Despachadas também do teto e das paredes, as gangorras têm o movimento congelado em frames improváveis. Esta insustentável imobilidade, aérea, precisa e fantasmagórica, é de uma leveza que não pode ser. Mas está lá.

O outro trabalho chama-se The Cure e é composto de uma plataforma móvel sustentada por um eixo central, tem barras de manipulação em toda a circunferência e bordas transparentes que não deixam cair os milhares de comprimidos coloridos dispostos em cerca de 2 metros de diâmetro. A partir do momento em que se aceita o convite à interação, se aceita o desafio pelo controle das possibilidades de movimento do objeto instável, e nem tudo é idílico nesta aparente brincadeira. As cápsulas sorridentes deslocam-se de forma acidentada, produzem um ruído melancólico de chuva e o prazeroso de dominar a coisa pode ser igualmente incômodo. Ambos os trabalhos habitam regiões em que a quietude soa como alarme e a fruição tem algo de ameaça e ironia. Este blog tenta, mas, definitivamente não tem nem o timing nem o rigor jornalístico. “A Primeira Vez” é o nome do terceiro trabalho, exatamente do qual não se fala aqui, e a exposição já fechou as portas, dia 23 na capital mineira. Acredito que fui um dos últimos privilegiados a passar por lá. Onde: Galeria Celma Alvim, Belo Horizonte. Fotos: Daniel Mansur e Cao Guimarães.